21.5.10

PODERES

Acordei com vontade de comer peixe feito com leite de coco e azeite dendê. Tinha todos os ingredientes em casa, exceto o dendê. Quando quero comer alguma coisa não meço esforços para satisfazer o meu desejo, sou pior que mulher grávida. Passei em dois supermercados antes de finalmente encontrar o azeite numa casa que vende artigos de Umbanda e Candomblé. Teria ido até a Bahia se fosse preciso, mas a lojinha tem a Bahia toda concentrada bem pertinho de mim. Sou freguês da loja de artigos religiosos, costumo comprar velas para oferecer a Miguel Arcanjo e espíritos do bem que me orientam e guiam no dia a dia. Não havia pensado nela até começar a entrar em desespero depois de sair do segundo supermercado e imaginar que corria o risco de não satisfazer meu desejo. Lembrei que havia visto as garrafinhas do azeite na prateleira ao lado das ervas e corri para lá. Quando saía da loja dei de cara com a vizinha que mora no apartamento de cima. A mulher olhou para mim como se tivesse visto um fantasma, deve ter pensado que eu fui lá para comprar os ingredientes para fazer o “trabalho” que certamente um dia vou fazer se seus graciosos cachorrinhos continuarem não respeitando o vizinho de baixo. Gostei da coincidência, ela passando na frente da loja bem na hora em que eu estava saindo. Semana passada coloquei um doutor na frente do meu nome quando interfonei para reclamar de seus filhinhos, mas o encontro casual vai impor mais respeito, acho que a partir de agora ela vai me levar mais a sério.

Como já estamos no assunto religião, vou emendar e falar sobre um documentário que vi ontem na tv italiana sobre o Papa João Paulo II. Dentro da minha fé cabe um pouco de tudo, com o passar dos anos me tornei um ser ecumênico, herdei preceitos ortodoxos por causa da minha ascendência, estudei em colégio de padres salesianos, adoro acreditar que depois da minha morte vou reencadernar e serei uma pessoa mais evoluída (sei lá o que isso deve significar, mas só de escrever a palavra evoluída já me sinto melhor) me emociono com as cerimônias judaicas, de vez em quando me ajoelho e curvo o meu corpo em direção a Meca, aprecio a filosofia budista, dou piruetas só de ouvir os tambores da umbanda e do candomblé, falo com Miguel Arcanjo o dia inteiro a ponto de acreditar que às vezes ele se cansa de mim, enfim, sou tudo isso aí e ninguém teve a idéia de me internar. Ainda. O documentário sobre o Papa João Paulo II mexeu comigo, e quanto mais avançava para os seus últimos anos de vida, quando seu rosto e seus olhos assumiram um semblante e um olhar contemplativo, mais eu me convenci que ele foi um sujeito especial. O homem tinha um talento para se comunicar com suas ovelhas que pouquíssimos homens públicos têm. Não importa se a gente concorda ou não com os ideais defendidos por ele, não estou discutindo a igreja católica a instituição ou sua história, estou falando sobre a pessoa Karol Wojtyla, sobre seu poder de irradiar emoção, transmitir mensagens, o sujeito que soube usar o poder que lhe foi concedido de uma maneira impressionante. O documentário trazia a opinião de pessoas que conviveram com ele não apenas dentro do vaticano, mas também antes, na vida pré papal, amigos, assessores, médicos, jornalistas. Gostaria de ter tido uma conversa íntima com ele. Como no momento não estou conseguindo me concentrar, nem ler nem escrever, assistir ao documentário teve um efeito terapêutico e bom.

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