6.3.11

AI QUE PREGUIÇA

Na quinta feira quando Colette me ligou toda cheia de cuidados para me perguntar se eu a acompanharia na semi maratona de Paris eu não pensei duas vezes, disse sim, lógico que iria com ela. Ela precisava de alguém para ficar com seus pertences e queria um amigo por perto, um apoio moral. Colette é uma das minhas amigas de curso, jornalista profissional, no momento trabalhando como babá para uma família francesa para ganhar alguns trocados. Depois que desliguei pensei ai meu Deus por que disse sim? Vou ter que acordar às 7 horas da manhã num domingo e ficar nas redondezas do Chateau Vincennes fazendo hora até ela voltar da maratona, justo eu que só de pensar em fazer qualquer tipo de esporte sinto vontade de me deitar na rede mais próxima. Como tenho uma séria tendência a pensar compulsivamente sobre o mesmo tema quando não me sinto confortável em alguma situação, comecei a imaginar toda aquela gente saudável ao meu redor, falando sobre colesterol e proteínas, gel adstringente, tênis com amortecedor para o calcanhar, camisetas térmicas que sugam o suor e etc... Achei que ia pagar um grande mico só de estar entre essa gente cheia de energia. Na noite de sábado para domingo fui a um jantar e devo ter bebido uma garrafa e meia de vinho para me acalmar. Bom, acordei antes das sete e fui encontrá-la na saída da estação do metrô. Devia estar fazendo uns 3 graus no máximo quando chegamos ao local, mas o dia amanheceu com céu azul e sol e assim ficou até anoitecer.
Colette antes da corrida e com a sacola que deixou comigo

Alguns dos cheios de energia

Para quem não conhece, o Chateau de Vincennes é um palácio fortificado que começou a ser erguido na idade média, e tem um imenso parque ao seu redor. Pare de pensar no castelo de caras, nada a ver, esse é muuuuuito maior e muuuuuito mais chique, além disso não tem gente brega tomando café da manhã e tirando fotografia do lado da lareira. Quer dizer, gente brega tem sim, um monte, nos arredores ou visitando, mas se eles te encherem o saco você dá um empurrãozinho e eles somem nos fossos vazios que circundam a fortaleza.O Chateau

A lateral da capela feita para a ordem de São Miguel

Quando chegamos lá um mundo de fanáticos corredores já se preparava para correr. Colette estava ansiosa e teve que usar os banheiros biológicos algumas vezes. Eu estava tranqüilo e estupefato com o número de loucos já naquela hora da manhã. Com frio e já pensando no croissant que comeria e na xícara enorme de café que tomaria logo depois que os 30.000 freaks saíssem correndo. Ela foi atrás dos loucos. Eu fiquei. E foi agradabilíssimo o meu passeio. Tomei duas grandes xícaras de café, comi um croissant delicioso e ainda deu tempo de paquerar e ler dois jornais. Depois empurrei alguns cafonas nos fossos e entrei no palácio para conhecê-lo. O palácio já serviu para um pouco de tudo desde sua fundação, começou como pavilhão de caça, serviu de prisão para alguns famosos (nem se atreva a dizer que tem algo a ver com a ilha de caras, dá uma olhada na lista dos famosos), que lá ficaram presos, Henrique IV, Marquês de Sade, Diderot entre outros. Depois caminhei pelos arredores, e quando percebi às duas horas e meia que Colette avaliou que precisaria para fazer o percurso de 21 quilômetros já haviam passado. Me plantei no lugar combinado e a esperei. Vinte minutos depois ela chegou. Bochechas rosadas e feliz. Falou com pai, mãe, o namorado sul-americano que faz doutorado na Holanda e lentamente voltamos para casa. Cheguei exausto. Está pensando o que? Que dar apoio moral não cansa?

Colette e sua medalha, feliz

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