Alguém me disse que a vida dá voltas. Não me lembro mais em que contexto ou em que ponto de nossa conversa essa frase foi necessária para interromper um raciocínio e iniciar um outro mais positivo. Ouvi calado, mas não por muito tempo, ou melhor, ouvi calado, mas logo uma voz forte começou a dialogar comigo internamente. Dou voltas para tentar abraçar a vida. Algumas pessoas tricotam, minha mãe, por exemplo, faz botinhas de lã que agasalham os pés das pessoas que ela ama no inverno, outras constroem muros visíveis ou invisíveis em torno de si mesmas, o bicho da seda faz seu casulo, eu dou voltas em torno de mim mesmo. Vou me cercando, olhando para o meu interior, não quero perder nada e me perco dentro de mim mesmo.
Almocei com uma amiga austríaca de passagem por Paris. Ela deve estar hoje com mais de 85 anos. Nasceu no sul da Alemanha e se casou bem mocinha em 1944 com um austríaco veterinário e assim os dois foram parar em Wels, a cidade onde eu morei e os conheci há muitos anos. Assim ele escapou do front e ela ao contrário foi para o front. Explico: ontem pela primeira vez ela me contou o que foi o começo de sua vida nos primeiros anos de casada quando foi obrigada a morar com a sogra. Um verdadeiro conto de fadas, com todos os elementos que devem fazer parte de uma história onde a mocinha só consegue se libertar das atrocidades que é obrigada a viver depois da morte da bruxa. Seu marido alcoólatra, no meu tempo um ser ainda sociável, no final da vida assumiu o papel da bruxa e fez a vida dela virar um inferno. Ela jamais se posicionou como vítima. Ao contrário ri muito de si mesma e das situações que foi obrigada a experimentar. Não tiveram filhos. Nem bichos. Ela diz ter horror de ficar mais de duas semanas em casa. Viaja sem parar. Compra pacotes de viagem combinados, turismo de dia, ópera de noite. No final da tarde da rive gauche para a droite, fomos lentamente caminhando até o hotel onde ela está hospedada. Insisti para pegarmos um táxi, ela está andando com dificuldades depois de uma cirurgia no joelho e usa uma bengala como apoio. Não. Ela quis andar de braços dados comigo. Devagar. Assim posso aproveitar mais desse nosso encontro, ela disse. Na porta do hotel nos despedimos, hoje de manhã ela retorna para casa, por pouco tempo, no máximo em duas semanas uma outra viagem está programada, dessa vez mais para o sul, alguma cidade do norte da Itália. Um abraço bem demorado. Desses que a gente não sabe o momento certo de soltar. No caminho de casa comecei a me cercar, a olhar atentamente para dentro de mim. Em algum momento o sono me convidou a dormir. Acordei muito cedo. Tenho que devolver livros na biblioteca, terminar alguns textos que comecei a escrever. Prazos. A vida está do lado de fora.
Almocei com uma amiga austríaca de passagem por Paris. Ela deve estar hoje com mais de 85 anos. Nasceu no sul da Alemanha e se casou bem mocinha em 1944 com um austríaco veterinário e assim os dois foram parar em Wels, a cidade onde eu morei e os conheci há muitos anos. Assim ele escapou do front e ela ao contrário foi para o front. Explico: ontem pela primeira vez ela me contou o que foi o começo de sua vida nos primeiros anos de casada quando foi obrigada a morar com a sogra. Um verdadeiro conto de fadas, com todos os elementos que devem fazer parte de uma história onde a mocinha só consegue se libertar das atrocidades que é obrigada a viver depois da morte da bruxa. Seu marido alcoólatra, no meu tempo um ser ainda sociável, no final da vida assumiu o papel da bruxa e fez a vida dela virar um inferno. Ela jamais se posicionou como vítima. Ao contrário ri muito de si mesma e das situações que foi obrigada a experimentar. Não tiveram filhos. Nem bichos. Ela diz ter horror de ficar mais de duas semanas em casa. Viaja sem parar. Compra pacotes de viagem combinados, turismo de dia, ópera de noite. No final da tarde da rive gauche para a droite, fomos lentamente caminhando até o hotel onde ela está hospedada. Insisti para pegarmos um táxi, ela está andando com dificuldades depois de uma cirurgia no joelho e usa uma bengala como apoio. Não. Ela quis andar de braços dados comigo. Devagar. Assim posso aproveitar mais desse nosso encontro, ela disse. Na porta do hotel nos despedimos, hoje de manhã ela retorna para casa, por pouco tempo, no máximo em duas semanas uma outra viagem está programada, dessa vez mais para o sul, alguma cidade do norte da Itália. Um abraço bem demorado. Desses que a gente não sabe o momento certo de soltar. No caminho de casa comecei a me cercar, a olhar atentamente para dentro de mim. Em algum momento o sono me convidou a dormir. Acordei muito cedo. Tenho que devolver livros na biblioteca, terminar alguns textos que comecei a escrever. Prazos. A vida está do lado de fora.
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