Ontem no final do dia quando sai de casa para encontrar um casal de amigos, fui surpreendido por um mendigo que dormia exatamente na soleira da porta de entrada do prédio onde moro. Passar os pés sobre seu corpo foi a solução. Bonsoir Monsieur ele disse assim que eu coloquei o segundo pé do outro lado, já na calçada. Bonsoir respondi. Quando voltei já era tarde e ele continuava no mesmo lugar. Tinha headphones na cabeça e fumava um cigarrinho. Já está de volta? Respondi que já era tarde. Tarde para o que? Na hora não sabia como responder sua pergunta, fui surpreendido pela aparente intimidade, sorri e entrei. Pouco antes da segunda porta de vidro se fechar atrás de mim ouvi ele dizer nunca é tarde, nunca é tarde.
No café Beaubourg os garçons são bonitinhos e escolhidos a dedo. Pelo menos é essa a impressão que todos eles juntos nos dão. São simpáticos na maioria das vezes, mas um pouco cheios de ar, demoram para pegar os pedidos e fazem bicos e bocas quando sabem que você está a fim de pagar. Ficam parados a alguns metros da gente, sabem que você está olhando para eles e partem em retirada. Na última quinta feira marquei um encontro com um velho amigo que freqüentou esse café em sua época áurea. O garçon que nos atendeu foi um lolito jovem e cheio de confiança em si mesmo. Tudo bem. Pegou os pedidos e sentiu o olhar de desejo do meu velho amigo atravessando os tecidos de suas roupas. Voltou com um sorriso maroto e cheio de oui monsieur, non monsieur. Assisti ele se deixar assediar como o chapeuzinho vermelho pelo velho lobo mau, queria ver o final daquela história. Na hora de pagar ele repetiu o teatro de sempre. Viu que queríamos pagar e não veio, passou várias vezes por nós sem olhar para a nossa direção, foi, veio, desfilou entre as mesas, enfim nos irritou a ponto de levantarmos para pagar diretamente com a caixa. Au revoir monsieur, ele nos surpreendeu na saída. O lobo lhe comeu com os olhos. Putain! completou o lobo. De rien monsieur, ele respondeu com seu sorriso de lolito estampado na cara.
“Appassionata” a sonata n. 23 do Beethoven é minha trilha sonora imaginária. Porque não poderia ser diferente nesse momento. Os dias ficaram mais curtos depois do terremoto no Japão. Foi o que disseram alguns especialistas. Coisa mínima, milésimos de segundos que a gente nem consegue perceber. As placas tectônicas se ajustaram e a terra parece ter ficado um pouco menor e algo entre o eixo e ela é a justificativa para essa afirmação. Ouço a appassionata do Beethoven o tempo todo tocar na minha cabeça, independente da hora e do lugar onde estou. Alguém me sussurrou nos ouvidos que a vida é bela. Carpe Diem, Sergio, carpe diem! Eu disse que sim enquanto pensava em outra coisa. Quam minimum crédula postero. Tudo é passível de mudanças. Tudo.
No café Beaubourg os garçons são bonitinhos e escolhidos a dedo. Pelo menos é essa a impressão que todos eles juntos nos dão. São simpáticos na maioria das vezes, mas um pouco cheios de ar, demoram para pegar os pedidos e fazem bicos e bocas quando sabem que você está a fim de pagar. Ficam parados a alguns metros da gente, sabem que você está olhando para eles e partem em retirada. Na última quinta feira marquei um encontro com um velho amigo que freqüentou esse café em sua época áurea. O garçon que nos atendeu foi um lolito jovem e cheio de confiança em si mesmo. Tudo bem. Pegou os pedidos e sentiu o olhar de desejo do meu velho amigo atravessando os tecidos de suas roupas. Voltou com um sorriso maroto e cheio de oui monsieur, non monsieur. Assisti ele se deixar assediar como o chapeuzinho vermelho pelo velho lobo mau, queria ver o final daquela história. Na hora de pagar ele repetiu o teatro de sempre. Viu que queríamos pagar e não veio, passou várias vezes por nós sem olhar para a nossa direção, foi, veio, desfilou entre as mesas, enfim nos irritou a ponto de levantarmos para pagar diretamente com a caixa. Au revoir monsieur, ele nos surpreendeu na saída. O lobo lhe comeu com os olhos. Putain! completou o lobo. De rien monsieur, ele respondeu com seu sorriso de lolito estampado na cara.
“Appassionata” a sonata n. 23 do Beethoven é minha trilha sonora imaginária. Porque não poderia ser diferente nesse momento. Os dias ficaram mais curtos depois do terremoto no Japão. Foi o que disseram alguns especialistas. Coisa mínima, milésimos de segundos que a gente nem consegue perceber. As placas tectônicas se ajustaram e a terra parece ter ficado um pouco menor e algo entre o eixo e ela é a justificativa para essa afirmação. Ouço a appassionata do Beethoven o tempo todo tocar na minha cabeça, independente da hora e do lugar onde estou. Alguém me sussurrou nos ouvidos que a vida é bela. Carpe Diem, Sergio, carpe diem! Eu disse que sim enquanto pensava em outra coisa. Quam minimum crédula postero. Tudo é passível de mudanças. Tudo.
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