Hoje, 11 de setembro de 2011, acordei um pouco mais tarde. Fiz um café e fui para frente do computador sedento pela resposta de um e-mail enviado há alguns dias. Nada ainda. Passei então a ler a Folha de São Paulo na tela do computador. Não perco mais tempo lendo o jornal de ponta a ponta, desenvolvi um sistema próprio de leitura, bato o olho no título da matéria e vejo quem a escreveu e não reflito muito, ou abro o artigo e leio, ou passo batido sem nenhuma culpa porque a maioria das notícias é desinteressante, elas apenas confirmam o que já sabemos ou não trazem nenhuma nova discussão. Foi quando me deparei com uma matéria sobre o Padre Marcelo no caderno Mercado. Estranhei, o que um padre estaria fazendo num caderno de conteúdo econômico? Ao mesmo tempo que lia a matéria chamada “Padre Marcelo S.A.”, um dos moradores de uma das casinhas da vila localizada atrás do meu prédio, começou a escutar música num volume que todo o bairro poderia escutar. Imagino que sua intenção era propiciar um imenso prazer aos ouvidos de seus vizinhos, mas ler a matéria sobre o tal padre acompanhado por refrões de “eu sou pobre pobre pobre de marré marré de si, mas sou rico rico rico e cheio de mulhé” foi o suficiente para me provocar ânsias de vômito. Para mim gosto se discute e, bem, dentro do espírito democrático que acredito ter assimilado no decorrer da minha vida, aceito que ele escute o que quiser, mas por favor não quero ser obrigado a escutar a mesma coisa. Tentei acreditar que logo ele abaixaria o som e continuei a ler as matérias do jornal. Fiquei então sabendo que o padre Marcelo está construindo uma imensa igreja, um templo para milhões de pessoas, com sei lá quantas mil vagas de estacionamento e uma cripta onde ele futuramente será enterrado. Enquanto isso meu vizinho de baixo continuava a nos presentear com canções de altíssimo padrão, recheando meus ouvidos com refrões que jamais esquecerei. E o padre Marcelo ainda deu uma pequena entrevista onde fala coisas interessantíssimas como, por exemplo, que ele produziu um “cd contemplativo”. Veja bem, quando li isso, imaginei que seus fãs devem comprar o “cd contemplativo” para colocar em algum lugar da estante e ficarem horas olhando para ele até alcançarem o nirvana. Mas não. Segundo o padre Marcelo “você o coloca para tocar e ele leva você ao ágape, que em grego antigo significa amor divino". Que beleza! Um cd contemplativo que emite som! Nessa matéria fiquei sabendo ainda que o padre Marcelo cultuava o corpo quando jovem, e que já caiu duas vezes da esteira onde costuma correr. Tudo bem, por que um padre não poderia se preocupar com a saúde do seu corpo? Mas ele chegou a pensar que seus tombos eram resultado da inveja alheia. Não falou em olho gordo, mas inveja, o que é diferente. E está na bíblia. Decididamente a data 11 de setembro deve ter algo que transcende outras datas. Porque desse trecho em diante meu vizinho de cima passou a gritar para o da vila para que o mesmo abaixasse o som. Sai no terraço para ver quem estava gritando e um ovo endereçado ao vizinho de baixo passou bem rente a minha cabeça. Voltei para terminar de ler a entrevista e descobri que o padre Marcelo usou medicamentos que misturam finasterida com menoxidil para conter a calvície, remédios esses que podem afetar a potência sexual, mas que ele não se preocupa com isso porque é celibatário. Por algum milagre, o vizinho desligou o som e eu pude continuar a ler o jornal tranquilamente. Foi quando descobri que o padre Marcelo também acredita em milagres e já viu alguns. E que ele ainda não crê que possa provocá-los. Mas contou que só de por a mão na barriga de uma de suas fiéis que desejava ter filhos e perguntar a ela se ela tinha fé, a moça engravidou, que aquilo é um dom, o dom de tocar. É verdade. Pense na história que acabei de contar, do ovo que tocou a cabeça do meu vizinho, no bem estar que esse milagre provocou a todos os moradores que moram na redondeza, aquilo foi um milagre, provocado pelo dom de tocar, vindo diretamente do céu.
11.9.11
É TUDO VERDADE
Hoje, 11 de setembro de 2011, acordei um pouco mais tarde. Fiz um café e fui para frente do computador sedento pela resposta de um e-mail enviado há alguns dias. Nada ainda. Passei então a ler a Folha de São Paulo na tela do computador. Não perco mais tempo lendo o jornal de ponta a ponta, desenvolvi um sistema próprio de leitura, bato o olho no título da matéria e vejo quem a escreveu e não reflito muito, ou abro o artigo e leio, ou passo batido sem nenhuma culpa porque a maioria das notícias é desinteressante, elas apenas confirmam o que já sabemos ou não trazem nenhuma nova discussão. Foi quando me deparei com uma matéria sobre o Padre Marcelo no caderno Mercado. Estranhei, o que um padre estaria fazendo num caderno de conteúdo econômico? Ao mesmo tempo que lia a matéria chamada “Padre Marcelo S.A.”, um dos moradores de uma das casinhas da vila localizada atrás do meu prédio, começou a escutar música num volume que todo o bairro poderia escutar. Imagino que sua intenção era propiciar um imenso prazer aos ouvidos de seus vizinhos, mas ler a matéria sobre o tal padre acompanhado por refrões de “eu sou pobre pobre pobre de marré marré de si, mas sou rico rico rico e cheio de mulhé” foi o suficiente para me provocar ânsias de vômito. Para mim gosto se discute e, bem, dentro do espírito democrático que acredito ter assimilado no decorrer da minha vida, aceito que ele escute o que quiser, mas por favor não quero ser obrigado a escutar a mesma coisa. Tentei acreditar que logo ele abaixaria o som e continuei a ler as matérias do jornal. Fiquei então sabendo que o padre Marcelo está construindo uma imensa igreja, um templo para milhões de pessoas, com sei lá quantas mil vagas de estacionamento e uma cripta onde ele futuramente será enterrado. Enquanto isso meu vizinho de baixo continuava a nos presentear com canções de altíssimo padrão, recheando meus ouvidos com refrões que jamais esquecerei. E o padre Marcelo ainda deu uma pequena entrevista onde fala coisas interessantíssimas como, por exemplo, que ele produziu um “cd contemplativo”. Veja bem, quando li isso, imaginei que seus fãs devem comprar o “cd contemplativo” para colocar em algum lugar da estante e ficarem horas olhando para ele até alcançarem o nirvana. Mas não. Segundo o padre Marcelo “você o coloca para tocar e ele leva você ao ágape, que em grego antigo significa amor divino". Que beleza! Um cd contemplativo que emite som! Nessa matéria fiquei sabendo ainda que o padre Marcelo cultuava o corpo quando jovem, e que já caiu duas vezes da esteira onde costuma correr. Tudo bem, por que um padre não poderia se preocupar com a saúde do seu corpo? Mas ele chegou a pensar que seus tombos eram resultado da inveja alheia. Não falou em olho gordo, mas inveja, o que é diferente. E está na bíblia. Decididamente a data 11 de setembro deve ter algo que transcende outras datas. Porque desse trecho em diante meu vizinho de cima passou a gritar para o da vila para que o mesmo abaixasse o som. Sai no terraço para ver quem estava gritando e um ovo endereçado ao vizinho de baixo passou bem rente a minha cabeça. Voltei para terminar de ler a entrevista e descobri que o padre Marcelo usou medicamentos que misturam finasterida com menoxidil para conter a calvície, remédios esses que podem afetar a potência sexual, mas que ele não se preocupa com isso porque é celibatário. Por algum milagre, o vizinho desligou o som e eu pude continuar a ler o jornal tranquilamente. Foi quando descobri que o padre Marcelo também acredita em milagres e já viu alguns. E que ele ainda não crê que possa provocá-los. Mas contou que só de por a mão na barriga de uma de suas fiéis que desejava ter filhos e perguntar a ela se ela tinha fé, a moça engravidou, que aquilo é um dom, o dom de tocar. É verdade. Pense na história que acabei de contar, do ovo que tocou a cabeça do meu vizinho, no bem estar que esse milagre provocou a todos os moradores que moram na redondeza, aquilo foi um milagre, provocado pelo dom de tocar, vindo diretamente do céu.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário