11.2.10

EXQUISITICES, MAU HUMOR, STALIN E DUSSOLIER

Um morador de rua faz questão de se sentar no topo da escadaria que serve de acesso aos usuários da estação St Paul do metrô. Ele se acomoda em seu lugar todos os dias entre 7 e 8 horas da manhã, obrigando quem sobe ou desce a desviar o caminho e provocando um congestionamento de usuários apressados. Somente nesse horário de pico, o resto do dia ele desaparece, não o vejo pelo bairro. Em São Paulo tem um sujeito que faz exatamente a mesma coisa na estação Marechal. Deve haver algum motivo que eu desconheço. A única diferença é que o daqui fica lendo jornal, ou finge que lê, e o de São Paulo implora por um cigarro.

Todas as vezes que faço baldeação na estação de metrô Concorde, a mesma cantora de rua está cantando ave Maria. Não importa o dia nem o horário. Coincidência? Eu já acho que ela me escolheu para Cristo. Escutar ave Maria várias vezes ao longo do dia provoca meu lado laranja mecânica adormecido. Não sei quanto tempo vou suportar passar por ela sem chutar seu pratinho de moedas.

Uma das caixas do Monoprix (supermercado onde quase todos os dias entro para comprar alguma coisa) sofre de mau humor crônico. É lenta, não cumprimenta ninguém, não olha para o rosto das pessoas, não diz Bonjourrrrrrr nem Bomsoirrrrrr, e de vez em quando trabalha com os foninhos de ouvido deixando ainda mais claro que não está nem aí com os clientes. Hoje ela tentou me infectar. Eu tinha que pagar 17,01 euros e dei a ela 20 euros. Ela pegou os vinte euros da minha mão e sem nem olhar para mim e nem expressar um por favorzinho antes, disse que queria 0,1 centavo. Respondi que não tinha. Ainda sem olhar para mim ela resmungou qualquer coisa que não entendi. Em seguida me deu 3 euros e repetiu que queria 0,1 centavos esticando a mão. Eu repeti que não tinha, mas que todos os dias entrava para comprar alguma coisa e que lhe daria 0,1 centavo da próxima vez que fosse fazer compras. Ainda sem olhar para mim, em tom de ironia ela me disse que nunca havia me visto por lá. Respondi que ela não poderia ter me visto porque não está habituada a olhar para os fregueses que passam por ela. Seu rosto enrubesceu. Soltou as três moedinhas que segurava entre os dedos na palma da minha mão e pela primeira vez desde que cheguei aqui eu a ouvi dizer “au revoir Monsieur”. “Bon Journée Madame”.

Ontem fui novamente ao cinema. Fui assistir “Uma execução ordinária”, filme que acredito ainda não está sendo exibido no Brasil. O filme, dirigido por Marc Dugain, que também é autor do livro, não vai agradar muita gente. É pesado, lento, e escuro, como a União Soviética na época de Stalin, mas vai agradar aos fãs de André Dussolier e aos que ainda não são e serão. Dussolier representa Stalin no filme. Um homem já alquebrado e que usa o poder para receber os benefícios de uma médica(Marina Hands, muito boa atriz) que tem poderes de curar com as mãos. Não conhecemos muitas imagens de Stalin por isso mesmo fica muito difícil avaliar o trabalho de Dussolier. Mesmo assim, Dussolier consegue nos fazer acreditar que o homem que vemos na tela é Stalin. Perfeito, desde a maquiagem até a postura física, os gestos contidos, a frieza e crueldade. O roteiro do filme não tem nada de extraordinário e sua história é simples, narra apenas o que contei duas ou três frases acima. Eu me arrisco a dizer que Dussolier é o próprio filme, sem ele, o filme não existiria. Sessão das 15:50, sala cheia, silêncio total.


Um comentário:

Anônimo disse...

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