5.2.10

UM POUCO DE TUDO.

O curso entrou numa fase difícil. A gente tem a impressão de poder compreender tudo e dominar a gramática, mas a língua francesa é cheia de exceções e você acaba se confundindo. A língua alemã em comparação tem regras rígidas, fixas (apesar das declinações) e pode parecer dura aos ouvidos, mas é mais sistemática, dá para seguir como se viesse com um manual de instruções. Tenho que ajustar o meu cérebro, colocar uma para dormir e outra para funcionar, mudar entonação, recusar o chucrute e aceitar o fois gras. Há progressos, e eles são audíveis.

Três amigos austríacos chegaram ontem a tarde para passar o final de semana comigo. O apartamento virou uma torre de babel, já que o Sebastien não fala alemão e eles não falam francês. Automaticamente passamos a usar o inglês como língua comum para que todos pudessem se entender. Mas a coisa não é tão simples assim. Quando uma das partes não entende o que a outra quer, faço o meio campo. Então meu cérebro tem que se desdobrar para passar a bola de um lado para o outro. Ainda não fui carregado de maca para fora do campo, mas ontem a noite depois de muitos goles de vinho, quase pedi para sair.

Escrevo este post enquanto aguardo entregadores da nova máquina de lavar encomendada por Sebastien. Os entregadores ligaram às 9 horas da manhã dizendo que estariam aqui até as onze. Acho que não há muita diferença entre entregadores de mercadoria no mundo inteiro, já passou do meio dia e nada dos sujeitos chegarem. Lá fora o sol brilha e eu gostaria de caminhar um pouco com ele aquecendo minhas costas.

Há uma discussão aqui sobre uma lei que tem como objetivo proibir o uso da burca. Estima-se que a vestimenta que cobre a mulher inteira permitindo apenas dois pequenos buracos para que ela possa enxergar é usada por apenas 300 mulheres aqui na França. Lógico que a lei está provocando discussões e ataques de todos os lados, direita e esquerda estão quase se pegando em ano eleitoral. Sarkozi foi entrevistado em programa exclusivo na semana passada, com a presença de 11 cidadãos representando a população francesa e lhe fazendo as mais variadas queixas e perguntas. Saboneteou todo mundo. Tem resposta para qualquer pergunta, mas como qualquer outro político, ignora o que lhe foi perguntado e responde o que quer. Sobre a burca fico pensando sobre a importância de uma lei feita com o intuito de proibir essas 300 mulheres de saírem de casa vestidas conforme suas crenças e cultura. A França é um país com tradição humanista, dá abrigo a imigrantes de todos os lugares do mundo, e nunca perdeu culturalmente, pelo contrário, os franceses cultivam seu passado, conhecem sua história e os novos franceses (filhos dos imigrantes) acabam incorporando costumes e cultura francesas em suas vidas. A quem interessa toda essa discussão? O presidente da Frente Nacional, partido ultra nacionalista do Jean Marie Le Pen vai de mal a pior, sua situação não é nada fácil. Ataca para todos os lados para atrair mais votos para seu partido moribundo. A esquerda, como em qualquer outro país, no momento continua perdida, não está sendo capaz de incentivar gente com valores éticos e morais a lutar por seus ideais. Sobra o partido pseudo chique, que pensa o mundo economicamente, que descarta qualquer posição humanista e visa um mundo do progresso, custe o que custar, onde o ser humano vale o que pode consumir.

Quase duas horas da tarde. Os entregadores da máquina de lavar roupas acabam de interfonar. À bientôt.

3 comentários:

Anônimo disse...

Aqui, continuamos agradecendo por ser um ano eleitoral....

Unknown disse...

"Petit Sergiô",
ça vá? (não sabemos como se escreve...)
Somos absolutamente contra a burca, que para nós é o mais visível simbolo de opressão. Faça bonito neste curso e volte logo! Você faz muita falta por aqui...!
Bizusínhos!
Tronca mãe e Tronca filha caçula.

Anônimo disse...

mais tu est vraiment a Paris!!! Salut! je bois