Quase cem por cento das pessoas que conheço não gostam de envelhecer e querem ser magras. A maioria quer permanecer jovem ou parecer mais jovem. Não se conformam com as marcas do tempo e querem apagar os sinais provocados por ele. Essas pessoas acreditam no sacrifício, crêem na privação dos prazeres como fórmula para a eterna juventude e passam a vida seguindo fórmulas e dietas. Buscam incansavelmente a fonte da juventude e, sem perceber, rapidamente vão se tornando velhas, feias e chatas. Tenho a impressão de que não conseguem compreender que o acúmulo de experiências deveria lhes servir como diferencial. São as pessoas mais beges de todas as outras beges que conheço. Empatam no quesito “idiotas de plantão” com os politicamente corretos. Passam jantares inteiros te enchendo o saco com suas receitas e conversas previsíveis, assim como os falsos moralistas, e não falam de outra coisa senão de cirurgias plásticas, ginástica e performance. O sujeito tem oitenta anos e passa horas tentando te convencer de suas façanhas sexuais ou de alguém que ele encontrou e o elogiou por “estar tão bem”, a mulher de boca retorcida e lábios de boneca inflável por outro lado insiste em querer parecer natural enquanto você tenta entender o que ela te falou. O que fazer para se livrar dessa gente? A resposta é romper com eles. Não tem jeito, não tem explicação plausível que consiga convencê-los de que suas vidas ficariam mais fáceis e mais prazerosas se desistissem de querer parecer com o que não são. Então o jeito é desistir deles. Relaxe. Eles que querem ser jovens e magros que se entendam! Almoçar ou jantar sem essas pessoas pode ser uma experiência divina. Comer e beber sem sentir o olho gordo atravessando as paredes de seu copo de vinho e pousando sobre seu prato de risoto coberto de queijo parmesão é uma sensação de liberdade tão grande quanto se jogar de uma ponte preso a uma corda elástica. Tente. O ditado popular melhor sozinho que mal acompanhado é de uma sabedoria inequívoca.
27.4.10
23.4.10
UM PECADO
Contar uma história, seja ela qual for, requer cuidados com os detalhes para que o ouvinte/leitor/espectador (ou até um amigo para quem você está contando alguma coisa) não duvide de sua veracidade, ou ao menos não se questione sobre a possibilidade dela ter acontecido exatamente como está sendo contada. No decorrer de quase meio século de vida, fui desenvolvendo um detector que me alerta quando alguma coisa está fora do lugar. Mesmo na ficção cuja narrativa é fundamentada no surreal ou na fantasia, é importante que quem esteja assistindo/lendo não seja tomado por um sentimento de incredulidade. Não há regras, e acho uma bobagem montar fórmulas, mas cuidados com os detalhes são tão importantes quanto à própria história que está sendo contada. Porque às vezes uma história com um tema interessante pode perder toda a sua intensidade em questão de segundos por causa da solução simplista utilizada pelo autor para contá-la.
O filme “Pecado da carne” conta a história de um pai de família judeu religioso, açougueiro kosher que decide empregar um jovem desconhecido recém chegado a Jerusalém. O drama “se dá” porque o açougueiro, casado, dois filhos, mulher dedicada, se apaixona pelo jovem recém chegado. Junte as peças: judeus religiosos, dogmas, forasteiro, homossexualismo, amor. Resultado: drama. Mas logo no começo achei muito “fácil” a aproximação do jovem Ezri com o açougueiro kosher. O jovem desconhecido chega ao bairro religioso num dia de chuva, entra no açougue e pedi o celular do açougueiro emprestado. Possível? Sim, mas estranho e gratuito. Assim como os primeiros diálogos entre os dois, possíveis, mas de uma agressividade ainda sem lugar. Está bem, poderíamos argumentar dizendo que o açougueiro é um sujeito que já era infeliz naquele lugar, que foi obrigado a viver a vida daquela maneira, confinado naquele bairro, amargurado pelas regras/normas/dogmas religiosos, uma bomba relógio pronta para ser detonada pelo toque das mãos do jovem Ezri, mas............. eu preciso de mais argumentos/cenas intimamente ligadas com o real no começo para acreditar que as coisas podem “se dar” gratuitamente desse jeito. Acredito no drama, sei que é possível e real, que há o fascismo religioso castrador de sentimentos e ditador de normas, relações homossexuais reprimidas (ou vividas de forma doentia em todas as religiões) dentro desses grupos retrógrados, e que muitas pessoas ainda vivem infelizes por causa disso. Mas dentro do meu localizador pessoal de categorias de filmes eu o localizei como documentário. Como drama, não conseguiu me fazer derramar uma lágrima. Para mim ficou faltando pedaços no drama do jovem Ezri. Afinal seu drama pessoal o levou a Jerusalém. Efraim, o outro jovem que ele vai buscar, fica solto, perdido na trama do filme. Para Aaron Fleishman, o açougueiro, coitado, tocado pela sensação de liberdade que a relação com Ezri lhe proporciona, não resta alternativa senão mergulhar profundamente na nascente purificadora. Espero apenas que ele tenha encontrado uma passagem secreta e conseguido sair em algum outro lugar menos sufocante.
O filme “Pecado da carne” conta a história de um pai de família judeu religioso, açougueiro kosher que decide empregar um jovem desconhecido recém chegado a Jerusalém. O drama “se dá” porque o açougueiro, casado, dois filhos, mulher dedicada, se apaixona pelo jovem recém chegado. Junte as peças: judeus religiosos, dogmas, forasteiro, homossexualismo, amor. Resultado: drama. Mas logo no começo achei muito “fácil” a aproximação do jovem Ezri com o açougueiro kosher. O jovem desconhecido chega ao bairro religioso num dia de chuva, entra no açougue e pedi o celular do açougueiro emprestado. Possível? Sim, mas estranho e gratuito. Assim como os primeiros diálogos entre os dois, possíveis, mas de uma agressividade ainda sem lugar. Está bem, poderíamos argumentar dizendo que o açougueiro é um sujeito que já era infeliz naquele lugar, que foi obrigado a viver a vida daquela maneira, confinado naquele bairro, amargurado pelas regras/normas/dogmas religiosos, uma bomba relógio pronta para ser detonada pelo toque das mãos do jovem Ezri, mas............. eu preciso de mais argumentos/cenas intimamente ligadas com o real no começo para acreditar que as coisas podem “se dar” gratuitamente desse jeito. Acredito no drama, sei que é possível e real, que há o fascismo religioso castrador de sentimentos e ditador de normas, relações homossexuais reprimidas (ou vividas de forma doentia em todas as religiões) dentro desses grupos retrógrados, e que muitas pessoas ainda vivem infelizes por causa disso. Mas dentro do meu localizador pessoal de categorias de filmes eu o localizei como documentário. Como drama, não conseguiu me fazer derramar uma lágrima. Para mim ficou faltando pedaços no drama do jovem Ezri. Afinal seu drama pessoal o levou a Jerusalém. Efraim, o outro jovem que ele vai buscar, fica solto, perdido na trama do filme. Para Aaron Fleishman, o açougueiro, coitado, tocado pela sensação de liberdade que a relação com Ezri lhe proporciona, não resta alternativa senão mergulhar profundamente na nascente purificadora. Espero apenas que ele tenha encontrado uma passagem secreta e conseguido sair em algum outro lugar menos sufocante.
20.4.10
ZERO A ZERO
De vez em quando acontece de me perceber tão lúcido, mas tão lúcido que por algum tempo eu tenho certeza de que a vida não tem nenhum sentido. Mas minha aparente lucidez dura pouco, pouco tempo depois algum mecanismo de defesa responsável pelo meu equilíbrio psicológico reorganiza meus pensamentos, afasta o perigo de me desconectar da realidade e me leva de volta ao que chamo de zona de conforto da minha psique. É meu sistema de proteção funcionando. Nesse lugar, onde eu me acomodo e me reconheço como parte de uma engrenagem que deve continuar a funcionar, dentro de uma ordem em que eu me encaixo. Então volto a pensar normalmente, isto é, tento passar bem longe daqueles pensamentos que considerei lúcidos, me untar com o óleo da engrenagem e fazer de conta que fui ali e voltei. Esse pensar normalmente é o que me bota de pé e com vontade de continuar a viver, tocar projetos, sonhar, desejar e etc. Sei que para manter esse ritmo tenho que manter viva a vontade de acreditar. Sem ela eu me perderia, passaria para o lado dos que vivem no limbo, dos mortos vivos, da lucidez paralisante. Não é a lógica o que me faz prosseguir, nem acredito na predestinação (pelo menos não 100%), mas a vontade de acreditar que sou capaz de interferir em minha própria vida, mudar, buscar alternativas e me recriar.
Ontem a noite zapeava pelos canais de televisão quando deparei com o início do programa Roda Viva. A voz feminina anunciava o cientista português António Coutinho e eu estacionei o controle na Cultura para conhecê-lo melhor. O sujeito me pareceu simpático e inteligente, tudo caminhava bem até o ponto em que as perguntas feitas a ele, saíram da matéria “exatas” e passaram do campo científico e racional para o lado menos lógico, o da “humanas”, isto é, para o imenso e vasto território das questões que ainda não encontraram respostas cientificamente comprovadas. Desse ponto em diante, o encantamento foi dando lugar a um sentimento misto, alguma coisa me fez pensar “que pena, pensei que ele fosse diferente”. Isso aconteceu quando com sutil ironia ele passou a demonstrar sua descrença nos outros métodos de tratamentos medicinais não comprovados pelos cientistas. Como cientista deve ser difícil acreditar em qualquer outra coisa que fuja da fórmula causa e efeito, o condicionamento resultante da formação rígida e do meio profissional não permite. Mas como homem e alguém que carrega experiências diversas nas costas, negar que experiências menos ortodoxas e alternativas podem dar certo, é querer não admitir que há vida inteligente fora do planeta da ciência tradicional. Não acredito que o homem inteligente é aquele que sobrepõe à lógica e a razão acima da percepção intuitiva e emocional. Por que não posso ser iluminista e romântico ao mesmo tempo? Acreditar na ciência, na natureza e também em Deus. Dá para contar nos dedos as verdades intocáveis que não sofreram interferência de outras novas verdades. Em especial no campo das descobertas científicas, algumas verdades se sustentam só até a próxima descoberta.
Não estaria vivo se tivesse desprezado a vontade de acreditar. Para dar um sentido a minha vida, abraço a ciência, a lógica e a razão e conto com a providência divina. Acredito na união entre o iluminismo e o romantismo.
Ontem a noite zapeava pelos canais de televisão quando deparei com o início do programa Roda Viva. A voz feminina anunciava o cientista português António Coutinho e eu estacionei o controle na Cultura para conhecê-lo melhor. O sujeito me pareceu simpático e inteligente, tudo caminhava bem até o ponto em que as perguntas feitas a ele, saíram da matéria “exatas” e passaram do campo científico e racional para o lado menos lógico, o da “humanas”, isto é, para o imenso e vasto território das questões que ainda não encontraram respostas cientificamente comprovadas. Desse ponto em diante, o encantamento foi dando lugar a um sentimento misto, alguma coisa me fez pensar “que pena, pensei que ele fosse diferente”. Isso aconteceu quando com sutil ironia ele passou a demonstrar sua descrença nos outros métodos de tratamentos medicinais não comprovados pelos cientistas. Como cientista deve ser difícil acreditar em qualquer outra coisa que fuja da fórmula causa e efeito, o condicionamento resultante da formação rígida e do meio profissional não permite. Mas como homem e alguém que carrega experiências diversas nas costas, negar que experiências menos ortodoxas e alternativas podem dar certo, é querer não admitir que há vida inteligente fora do planeta da ciência tradicional. Não acredito que o homem inteligente é aquele que sobrepõe à lógica e a razão acima da percepção intuitiva e emocional. Por que não posso ser iluminista e romântico ao mesmo tempo? Acreditar na ciência, na natureza e também em Deus. Dá para contar nos dedos as verdades intocáveis que não sofreram interferência de outras novas verdades. Em especial no campo das descobertas científicas, algumas verdades se sustentam só até a próxima descoberta.
Não estaria vivo se tivesse desprezado a vontade de acreditar. Para dar um sentido a minha vida, abraço a ciência, a lógica e a razão e conto com a providência divina. Acredito na união entre o iluminismo e o romantismo.
17.4.10
GENÉRICO.
A vida não tem botão “pause”. Continua abrindo trilhas mesmo quando você insiste em não querer acompanhá-la floresta adentro. Não tem essa de pedir um tempo, apertar a ponta do indicador na palma da outra mão dizendo que vai dar uma paradinha e voltar logo. Não. Você pode até parar, mas ela continua, e se ainda não notou, note: dentro da sua cabeça também. Você senta, teu corpo dorme, mas ela continua abrindo trilhas dentro de você. Morros desabam, vulcões explodem, você percebe e vê tudo como se assistisse a um documentário sobre a vida num outro planeta, mas não pode parar, tem que continuar seguindo sua trilha individual, ir em frente é a proposta que veio junto do pacote quando você veio ao mundo. Então está esperando o que? Ter certeza de alguma coisa? Sentir-se seguro para tomar decisões? Medo do que virá? Ora, ora, saia dessa moldura de papel em que você se meteu. Desde quando certezas são garantias de que deu a mão para a pessoa certa? Ou de que se fizer tudo certinho (há há há) o resultado será o melhor para você? Se ficar o bicho vai te comer de qualquer jeito. Não acredite em tudo que já ouviu falar, se correr você ainda terá a chance de escapar. Subir numa árvore, esperar a fera desistir em troca de uma vítima menos corajosa (ou menos rápida). Botão “pause” é uma invenção criada pelos homens. Função placebo. Caso de polícia. Falsa sensação de que consegue fazer a vida parar. Mentira institucional. Não tem essa de pedir para sair e voltar. Estamos sempre dentro. Botão “pause” é para fracos, e você não quer ser um deles, não é?
11.4.10
OS OUTROS EUS
Dia desses um pensamento tomou a frente de outros menos insistentes e me paralisou. E se tudo isso que estivesse em minha volta não passasse de ficção? Pessoas, objetos, prédios e até eu mesmo fossemos uma história inventada? Já vi alguns filmes com esse mesmo tema, mas nunca havia imaginado minha própria vida dessa forma. Estava engessado no trânsito da cidade e o pensamento se tornou um grande quebra cabeça. E se eu tiver apenas sonhando que estou dentro desse automóvel? Como autor eu sei que é difícil delimitar o território da ficção e o da não ficção. A não ser que você esteja biografando a vida de alguém, e mesmo assim ainda acho que essa biografia terá que cruzar os limites daquilo que chamamos de “vida real”, aproximar-se da ficção se quiser parecer real. Contar histórias, mesmo que inventadas, é dar vida a outras vidas que estão dentro de mim, e o que está dentro de mim, mesmo que adormecido e pouco evidente, faz parte da realidade. É também com essas vidas fictícias que as pessoas se relacionam. Passamos a vida inteira construindo a história de nossas próprias vidas. Acreditar numa única realidade pode ser uma grande cilada, não acreditar pode ser uma ainda maior. O que é real e o que não é se misturam e juntos dão força para a coluna vertebral que nos mantém em pé todos os dias. O que os outros vêem em nós e vice e versa é real e é inventado. Ainda no carro, lembrei-me da pergunta feita por um professor de filosofia do direito na época em que eu cursava a faculdade: “se você morresse hoje, acha que o mundo continuaria existindo ou ele deixaria de existir?”, ou “o mundo existiria se você não tivesse nascido? ”Essa era uma das perguntas que Kant havia feito a si mesmo para elaborar sua visão de mundo e filosofia. Essas perguntas me deixaram fascinado e assustado ao mesmo tempo. Então não somos o umbigo do universo? Oh meu Deus! Acho que perceber a vida mais ou menos como uma obra de ficção pode facilitar bastante as coisas. Depois de me livrar do transito e chegar em casa, o pensamento continuou me perseguindo. Antes de ir para cama tomei um banho e enquanto passava um creme hidratante no rosto me vi refletido no espelho. Você já aproximou seu rosto o mais próximo possível de um espelho e fixou seus olhos nos seus próprios olhos?
7.4.10
RECEITA
Vou continuar insistindo com o tema do meu último post: educação. Não tem outra alternativa para o país. Se aparecesse um sujeito qualquer e se candidatasse para as eleições presidenciais tendo como sua principal plataforma a reforma no sistema educacional eu votaria nele. Não me interessa nenhum outro plano de desenvolvimento para o Brasil que não tenha como carro chefe a reforma do ensino, do básico as universidades. Esse é o futuro. Caso contrário nosso futuro será o presente piorado.
Hoje presenciei um motoqueiro chutando e quebrando o espelho retrovisor de um automóvel na avenida Ibirapuera. Eu vinha logo atrás d condutor do automóvel que era um senhor já idoso e que tinha ao seu lado sua esposa. Com eu sei que era sua mulher? Porque ele parou logo depois quase provocando um acidente. Não conseguia dirigir de tão nervoso e amedrontado com a violência do motoqueiro. Ao perceber que ele não conseguiria continuar dirigindo, parei e fiz o papel de bom samarita tentando acalmá-lo. O homem tremia de raiva por causa da sensação de impotência e de medo porque pouco antes de chutar o espelho retrovisor o motoqueiro o ameaçou com um revolver. O que fazer nessa hora? Também não sei. Parei porque vi o medo na cara do homem. O motoqueiro sumiu, desapareceu ziguezagueando entre os outros carros covardemente.
Para finalizar o post com algo mais leve, fui ver o filme argentino vencedor do Oscar, “O segredo dos seus olhos”. Gostei muito e recomendo. Não só pela bela história, mas também pelo bom roteiro e pelos bons atores. A receita utilizada nas boas histórias leva sempre uma variedade de temperos, isto é, outras pequenas histórias paralelas dentro que fazem parte do todo. E nesse caso todas elas se entrelaçam e enriquecem o filme. Se alguém me perguntasse qual o gênero desse filme eu não conseguiria classificá-lo, porque ele engloba muitos gêneros, policial/romântico/político/drama com pitadas de humor e mais. Vale cada um dos 127 minutos.
Hoje presenciei um motoqueiro chutando e quebrando o espelho retrovisor de um automóvel na avenida Ibirapuera. Eu vinha logo atrás d condutor do automóvel que era um senhor já idoso e que tinha ao seu lado sua esposa. Com eu sei que era sua mulher? Porque ele parou logo depois quase provocando um acidente. Não conseguia dirigir de tão nervoso e amedrontado com a violência do motoqueiro. Ao perceber que ele não conseguiria continuar dirigindo, parei e fiz o papel de bom samarita tentando acalmá-lo. O homem tremia de raiva por causa da sensação de impotência e de medo porque pouco antes de chutar o espelho retrovisor o motoqueiro o ameaçou com um revolver. O que fazer nessa hora? Também não sei. Parei porque vi o medo na cara do homem. O motoqueiro sumiu, desapareceu ziguezagueando entre os outros carros covardemente.
Para finalizar o post com algo mais leve, fui ver o filme argentino vencedor do Oscar, “O segredo dos seus olhos”. Gostei muito e recomendo. Não só pela bela história, mas também pelo bom roteiro e pelos bons atores. A receita utilizada nas boas histórias leva sempre uma variedade de temperos, isto é, outras pequenas histórias paralelas dentro que fazem parte do todo. E nesse caso todas elas se entrelaçam e enriquecem o filme. Se alguém me perguntasse qual o gênero desse filme eu não conseguiria classificá-lo, porque ele engloba muitos gêneros, policial/romântico/político/drama com pitadas de humor e mais. Vale cada um dos 127 minutos.
4.4.10
CONCEITOS E PRECONCEITOS
Neste fim de semana lembrei-me dos comentários de Paulo Francis quando escrevia a respeito de leitores que enviam cartas aos jornais ou a seus articulistas. Ele afirmava que 90% dos leitores que enviavam cartas eram idiotas e ignorantes. Bastou eu ler a repercussão que a crítica de Mauricio Stycer provocou ao falar do filme “Chico Xavier” em seu blog no portal do UOL para confirmar sua afirmativa. A ponto do jornalista pouco mais tarde ter que fazer uma atualização do texto esclarecendo que havia comentado sobre o filme e não sobre Chico Xavier ou o espiritismo. Por curiosidade fui ler os comentários dos leitores. Há de tudo um pouco lá dentro. Incompreensão do texto, falta de condição de interpretá-lo (o texto é muito objetivo e claro, não deixa dúvidas), analfabetismo, ignorância e imbecilidade (essas três andam juntas na maioria das vezes). É impressionante como fé e religião conseguem provocar tanto ódio entre os que escreveram para o Stycer, uma polarização como acontece com quase tudo que se tenta discutir no país. Por isso insisto que políticas voltadas para educação são a salvação do planeta, todo o resto será conseqüência e resultado da consciência do homem educado. O grau de agressividade dessas pessoas é assustador. Não sei como se comportam quando não estão escondidas atrás de suas telas de computador, mas o fascismo enquanto “sem rostos” é evidente.
Outro assunto que me chamou atenção foi uma das discussões do programa “Saia Justa” no canal GNT. Não vejo sempre, mas assisto sempre que posso, e em quase todas às vezes em que o tema discutido é o papel do homem na relação homem/mulher, o homem é tratado como obsoleto ou infantilizado. Uma das saias afirmou, por exemplo, que hoje ele não passa de um eletro doméstico para ser utilizado nos momentos necessários. Mesmo que em tom de brincadeira, a meu ver esse tipo de afirmação reflete uma visão simplista, e de alguma forma revanchista, aliás, um jeito bem machista de raciocinar e que contribui para a manutenção de tudo aquilo que eu até agora havia entendido que elas gostariam de ver mudado. Não tenho a menor intenção de tomar as dores dos homens, nem de me defender ou coisa parecida porque não me sinto ofendido, mas se o programa tem como objetivo expor temas delicados e discuti-los (e na maioria das vezes faz isso muito bem), ou até trazer a luz respostas sobre questões complexas como relacionamentos entre homens e mulheres, nesse caso ele contribui para propagar o contrário e deixa a desejar. Pode ser engraçado, mas não produtivo. Sensibilidade e capacidade de raciocinar sem excluir a emoção estão presentes nos dois sexos, querer ridicularizar um ou outro ou generalizar é contribuir exatamente com tudo aquilo que emperra a evolução tão desejada por elas. Não vejo por que continuar a alimentar a submissão ou a relativa falta da importância de qualquer um dos sexos através da afirmação das diferenças. Pior ainda é querer discutir quem deve deter o poder na relação, principalmente quando a soberba e o orgulho (de que? de ser mulher ou homem?) são a força motora que move essa vontade. Eu me sentiria feliz se os papéis se dividissem e se misturassem até que nenhum dos dois sexos falasse mais sobre suas diferenças. O reconhecimento das diferenças é só uma constatação óbvia, o que fazer e como lidar com isso é a chave da questão. Se a gente continua apontando o dedo e ditando regras não haverá evolução. Sim, há ainda muitas mulheres sofrendo as regras machistas da sociedade, mas há também homens que gostariam de se livrar dessas regras e não podem porque sofrem pressão das próprias mulheres. Mais um motivo para não alimentar a inversão dos clichês machistas.
Outro assunto que me chamou atenção foi uma das discussões do programa “Saia Justa” no canal GNT. Não vejo sempre, mas assisto sempre que posso, e em quase todas às vezes em que o tema discutido é o papel do homem na relação homem/mulher, o homem é tratado como obsoleto ou infantilizado. Uma das saias afirmou, por exemplo, que hoje ele não passa de um eletro doméstico para ser utilizado nos momentos necessários. Mesmo que em tom de brincadeira, a meu ver esse tipo de afirmação reflete uma visão simplista, e de alguma forma revanchista, aliás, um jeito bem machista de raciocinar e que contribui para a manutenção de tudo aquilo que eu até agora havia entendido que elas gostariam de ver mudado. Não tenho a menor intenção de tomar as dores dos homens, nem de me defender ou coisa parecida porque não me sinto ofendido, mas se o programa tem como objetivo expor temas delicados e discuti-los (e na maioria das vezes faz isso muito bem), ou até trazer a luz respostas sobre questões complexas como relacionamentos entre homens e mulheres, nesse caso ele contribui para propagar o contrário e deixa a desejar. Pode ser engraçado, mas não produtivo. Sensibilidade e capacidade de raciocinar sem excluir a emoção estão presentes nos dois sexos, querer ridicularizar um ou outro ou generalizar é contribuir exatamente com tudo aquilo que emperra a evolução tão desejada por elas. Não vejo por que continuar a alimentar a submissão ou a relativa falta da importância de qualquer um dos sexos através da afirmação das diferenças. Pior ainda é querer discutir quem deve deter o poder na relação, principalmente quando a soberba e o orgulho (de que? de ser mulher ou homem?) são a força motora que move essa vontade. Eu me sentiria feliz se os papéis se dividissem e se misturassem até que nenhum dos dois sexos falasse mais sobre suas diferenças. O reconhecimento das diferenças é só uma constatação óbvia, o que fazer e como lidar com isso é a chave da questão. Se a gente continua apontando o dedo e ditando regras não haverá evolução. Sim, há ainda muitas mulheres sofrendo as regras machistas da sociedade, mas há também homens que gostariam de se livrar dessas regras e não podem porque sofrem pressão das próprias mulheres. Mais um motivo para não alimentar a inversão dos clichês machistas.
1.4.10
COLETIVO ESQUECIDO
Participar de uma reunião de condomínio apenas alguns dias depois de aterrissar no país é um exercício de paciência e poderia servir como teste de avaliação para se conhecer até que ponto é possível se manter equilibrado mentalmente confinado numa sala com seus vizinhos. Quem imagina que é preciso uma câmara instalada como nesses realities shows para observar o comportamento dos mais variados tipos de pessoas, ou o confinamento de longa duração, se engana. É muito mais rápido, quase instantâneo, basta participar de uma dessas reuniões que duram de duas a três horas. Não conheço outra situação melhor para observar falta de educação e grosserias. Realmente é um retrato grotesco, porém não menos realista, da classe média brasileira. Deve ser assim em outros condomínios também, talvez com menos ânimos exaltados, mas de qualquer forma uma exposição de egos deformados e gente que não tem espelho em casa. O que assisti ontem na reunião que participei seria o suficiente para alterar o nome de condomínio (onde se imagina que pessoas compartilhem de forma igualitária seus direitos e deveres) para favela vertical (não preciso explicar, e sei que favela não necessariamente é sinônimo de moradia de marginais). Gente “de bem”, professores universitários, advogados, médicos, arquiteta, desembargador, donas de casa e seus maridos possuidores de carros que de tão grandes não cabem nas vagas de garagem, enfim representantes clássicos da sociedade defendendo seus direitos de condôminos pensando apenas em seus próprios umbigos e desfilando soberba e pretensão. Para toda essa gente bem calçada no alto de seus saltos altos o que vale é a máxima, “eu sou mais eu, o resto que se dane”, ou a frase que infelizmente não enterraram junto com seus brinquedos em alguma praia de suas infâncias mal educadas, “eu quero, porque quero, e não estou nem aí com quem não quer o mesmo que eu”. Não tenho a intenção de ditar regras para ninguém, nem acho que resolva, mesmo porque quanto mais o tempo passa, mais aumenta a minha descrença num ser humano menos egoísta e mais altruísta. Sempre volto arrasado para o meu apartamento depois de uma reunião de condomínio. É uma das situações mais reveladoras que conheço, e também uma das mais constrangedoras.
Caminhando pela cidade, quase me arriscaria a dizer que nossas ruas estão mais limpas que as de Paris. Por vezes a cidade luz é tão ou mais suja do que a nossa. Enquanto estive por ali caminhei muito mais do que costumo caminhar por aqui, pela própria facilidade que a geografia da cidade oferece. E inúmeras vezes a sujeira me chamou atenção. Aqui como lá, as pessoas levam seus cães para fazerem as necessidades nas ruas, jogam papéis e lixo nas calçadas enquanto caminham, e não estão nem aí. Não vou nem começar a comentar sobre morador de rua porque não conseguiria avaliar onde é pior. Educação tornou-se um problema maior do que toda essa discussão sobre aquecimento global e blá blá blá. Não adianta querer ditar regras do que é certo e errado para uma sociedade que relativiza argumentos racionais e lógicos de acordo com seus interesses individuais. O lixo das ruas é só um exemplo da falta de sensibilidade para pensar coletivamente. Talvez um programa de educação confeccionado com base nos princípios básicos que facilitam a convivência entre os seres humanos, seria mais eficiente do que milhões de dinheiro investido em campanhas que chamam nossa atenção para a proximidade do fim do mundo. O fim do mundo virá com a falta de educação.
Caminhando pela cidade, quase me arriscaria a dizer que nossas ruas estão mais limpas que as de Paris. Por vezes a cidade luz é tão ou mais suja do que a nossa. Enquanto estive por ali caminhei muito mais do que costumo caminhar por aqui, pela própria facilidade que a geografia da cidade oferece. E inúmeras vezes a sujeira me chamou atenção. Aqui como lá, as pessoas levam seus cães para fazerem as necessidades nas ruas, jogam papéis e lixo nas calçadas enquanto caminham, e não estão nem aí. Não vou nem começar a comentar sobre morador de rua porque não conseguiria avaliar onde é pior. Educação tornou-se um problema maior do que toda essa discussão sobre aquecimento global e blá blá blá. Não adianta querer ditar regras do que é certo e errado para uma sociedade que relativiza argumentos racionais e lógicos de acordo com seus interesses individuais. O lixo das ruas é só um exemplo da falta de sensibilidade para pensar coletivamente. Talvez um programa de educação confeccionado com base nos princípios básicos que facilitam a convivência entre os seres humanos, seria mais eficiente do que milhões de dinheiro investido em campanhas que chamam nossa atenção para a proximidade do fim do mundo. O fim do mundo virá com a falta de educação.
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