Contar uma história, seja ela qual for, requer cuidados com os detalhes para que o ouvinte/leitor/espectador (ou até um amigo para quem você está contando alguma coisa) não duvide de sua veracidade, ou ao menos não se questione sobre a possibilidade dela ter acontecido exatamente como está sendo contada. No decorrer de quase meio século de vida, fui desenvolvendo um detector que me alerta quando alguma coisa está fora do lugar. Mesmo na ficção cuja narrativa é fundamentada no surreal ou na fantasia, é importante que quem esteja assistindo/lendo não seja tomado por um sentimento de incredulidade. Não há regras, e acho uma bobagem montar fórmulas, mas cuidados com os detalhes são tão importantes quanto à própria história que está sendo contada. Porque às vezes uma história com um tema interessante pode perder toda a sua intensidade em questão de segundos por causa da solução simplista utilizada pelo autor para contá-la.
O filme “Pecado da carne” conta a história de um pai de família judeu religioso, açougueiro kosher que decide empregar um jovem desconhecido recém chegado a Jerusalém. O drama “se dá” porque o açougueiro, casado, dois filhos, mulher dedicada, se apaixona pelo jovem recém chegado. Junte as peças: judeus religiosos, dogmas, forasteiro, homossexualismo, amor. Resultado: drama. Mas logo no começo achei muito “fácil” a aproximação do jovem Ezri com o açougueiro kosher. O jovem desconhecido chega ao bairro religioso num dia de chuva, entra no açougue e pedi o celular do açougueiro emprestado. Possível? Sim, mas estranho e gratuito. Assim como os primeiros diálogos entre os dois, possíveis, mas de uma agressividade ainda sem lugar. Está bem, poderíamos argumentar dizendo que o açougueiro é um sujeito que já era infeliz naquele lugar, que foi obrigado a viver a vida daquela maneira, confinado naquele bairro, amargurado pelas regras/normas/dogmas religiosos, uma bomba relógio pronta para ser detonada pelo toque das mãos do jovem Ezri, mas............. eu preciso de mais argumentos/cenas intimamente ligadas com o real no começo para acreditar que as coisas podem “se dar” gratuitamente desse jeito. Acredito no drama, sei que é possível e real, que há o fascismo religioso castrador de sentimentos e ditador de normas, relações homossexuais reprimidas (ou vividas de forma doentia em todas as religiões) dentro desses grupos retrógrados, e que muitas pessoas ainda vivem infelizes por causa disso. Mas dentro do meu localizador pessoal de categorias de filmes eu o localizei como documentário. Como drama, não conseguiu me fazer derramar uma lágrima. Para mim ficou faltando pedaços no drama do jovem Ezri. Afinal seu drama pessoal o levou a Jerusalém. Efraim, o outro jovem que ele vai buscar, fica solto, perdido na trama do filme. Para Aaron Fleishman, o açougueiro, coitado, tocado pela sensação de liberdade que a relação com Ezri lhe proporciona, não resta alternativa senão mergulhar profundamente na nascente purificadora. Espero apenas que ele tenha encontrado uma passagem secreta e conseguido sair em algum outro lugar menos sufocante.
O filme “Pecado da carne” conta a história de um pai de família judeu religioso, açougueiro kosher que decide empregar um jovem desconhecido recém chegado a Jerusalém. O drama “se dá” porque o açougueiro, casado, dois filhos, mulher dedicada, se apaixona pelo jovem recém chegado. Junte as peças: judeus religiosos, dogmas, forasteiro, homossexualismo, amor. Resultado: drama. Mas logo no começo achei muito “fácil” a aproximação do jovem Ezri com o açougueiro kosher. O jovem desconhecido chega ao bairro religioso num dia de chuva, entra no açougue e pedi o celular do açougueiro emprestado. Possível? Sim, mas estranho e gratuito. Assim como os primeiros diálogos entre os dois, possíveis, mas de uma agressividade ainda sem lugar. Está bem, poderíamos argumentar dizendo que o açougueiro é um sujeito que já era infeliz naquele lugar, que foi obrigado a viver a vida daquela maneira, confinado naquele bairro, amargurado pelas regras/normas/dogmas religiosos, uma bomba relógio pronta para ser detonada pelo toque das mãos do jovem Ezri, mas............. eu preciso de mais argumentos/cenas intimamente ligadas com o real no começo para acreditar que as coisas podem “se dar” gratuitamente desse jeito. Acredito no drama, sei que é possível e real, que há o fascismo religioso castrador de sentimentos e ditador de normas, relações homossexuais reprimidas (ou vividas de forma doentia em todas as religiões) dentro desses grupos retrógrados, e que muitas pessoas ainda vivem infelizes por causa disso. Mas dentro do meu localizador pessoal de categorias de filmes eu o localizei como documentário. Como drama, não conseguiu me fazer derramar uma lágrima. Para mim ficou faltando pedaços no drama do jovem Ezri. Afinal seu drama pessoal o levou a Jerusalém. Efraim, o outro jovem que ele vai buscar, fica solto, perdido na trama do filme. Para Aaron Fleishman, o açougueiro, coitado, tocado pela sensação de liberdade que a relação com Ezri lhe proporciona, não resta alternativa senão mergulhar profundamente na nascente purificadora. Espero apenas que ele tenha encontrado uma passagem secreta e conseguido sair em algum outro lugar menos sufocante.
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