4.4.10

CONCEITOS E PRECONCEITOS

Neste fim de semana lembrei-me dos comentários de Paulo Francis quando escrevia a respeito de leitores que enviam cartas aos jornais ou a seus articulistas. Ele afirmava que 90% dos leitores que enviavam cartas eram idiotas e ignorantes. Bastou eu ler a repercussão que a crítica de Mauricio Stycer provocou ao falar do filme “Chico Xavier” em seu blog no portal do UOL para confirmar sua afirmativa. A ponto do jornalista pouco mais tarde ter que fazer uma atualização do texto esclarecendo que havia comentado sobre o filme e não sobre Chico Xavier ou o espiritismo. Por curiosidade fui ler os comentários dos leitores. Há de tudo um pouco lá dentro. Incompreensão do texto, falta de condição de interpretá-lo (o texto é muito objetivo e claro, não deixa dúvidas), analfabetismo, ignorância e imbecilidade (essas três andam juntas na maioria das vezes). É impressionante como fé e religião conseguem provocar tanto ódio entre os que escreveram para o Stycer, uma polarização como acontece com quase tudo que se tenta discutir no país. Por isso insisto que políticas voltadas para educação são a salvação do planeta, todo o resto será conseqüência e resultado da consciência do homem educado. O grau de agressividade dessas pessoas é assustador. Não sei como se comportam quando não estão escondidas atrás de suas telas de computador, mas o fascismo enquanto “sem rostos” é evidente.

Outro assunto que me chamou atenção foi uma das discussões do programa “Saia Justa” no canal GNT. Não vejo sempre, mas assisto sempre que posso, e em quase todas às vezes em que o tema discutido é o papel do homem na relação homem/mulher, o homem é tratado como obsoleto ou infantilizado. Uma das saias afirmou, por exemplo, que hoje ele não passa de um eletro doméstico para ser utilizado nos momentos necessários. Mesmo que em tom de brincadeira, a meu ver esse tipo de afirmação reflete uma visão simplista, e de alguma forma revanchista, aliás, um jeito bem machista de raciocinar e que contribui para a manutenção de tudo aquilo que eu até agora havia entendido que elas gostariam de ver mudado. Não tenho a menor intenção de tomar as dores dos homens, nem de me defender ou coisa parecida porque não me sinto ofendido, mas se o programa tem como objetivo expor temas delicados e discuti-los (e na maioria das vezes faz isso muito bem), ou até trazer a luz respostas sobre questões complexas como relacionamentos entre homens e mulheres, nesse caso ele contribui para propagar o contrário e deixa a desejar. Pode ser engraçado, mas não produtivo. Sensibilidade e capacidade de raciocinar sem excluir a emoção estão presentes nos dois sexos, querer ridicularizar um ou outro ou generalizar é contribuir exatamente com tudo aquilo que emperra a evolução tão desejada por elas. Não vejo por que continuar a alimentar a submissão ou a relativa falta da importância de qualquer um dos sexos através da afirmação das diferenças. Pior ainda é querer discutir quem deve deter o poder na relação, principalmente quando a soberba e o orgulho (de que? de ser mulher ou homem?) são a força motora que move essa vontade. Eu me sentiria feliz se os papéis se dividissem e se misturassem até que nenhum dos dois sexos falasse mais sobre suas diferenças. O reconhecimento das diferenças é só uma constatação óbvia, o que fazer e como lidar com isso é a chave da questão. Se a gente continua apontando o dedo e ditando regras não haverá evolução. Sim, há ainda muitas mulheres sofrendo as regras machistas da sociedade, mas há também homens que gostariam de se livrar dessas regras e não podem porque sofrem pressão das próprias mulheres. Mais um motivo para não alimentar a inversão dos clichês machistas.

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