Enquanto eu esperava a mocinha tirar o meu expresso, um sujeito encostou a barriga no balcão a apenas alguns centímetros de mim e disse num volume de voz elevado: um expresso puríssimo e virginal. O tom de sua voz era muito mais feminino do que masculino, esbanjava segurança e demonstrava firmeza. A atendente sorriu um sorriso típico de quem não achou graça da piada e emendou se ele queria com ou sem leite: sem pecado, puríssimo, ele respondeu para todo mundo ouvir. Com o canto dos olhos percebi que ele falava com ela, mas olhava para mim, imagino que para ver se eu havia achado graça. Continuei durinho sem mexer nem corpo nem cabeça, meio de costas meio de frente para o balcão, torci para ele não me cutucar o ombro com a ponta dos dedos ou se dirigir a mim de alguma outra forma, normalmente essas pessoas são de cutucar e me constrangem muito mais do que me fazem rir. A mocinha trouxe meu café e em seguida o dele. Procurei um envelopinho de adoçante e o encontrei infelizmente entre mim e ele, próximo o suficiente para encorajá-lo a soltar mais uma de suas pérolas: ele está no meio de nós. Imitei o sorriso amarelo da moça enquanto rasgava a pontinha do envelope e voltei para a minha posição original. Quando ia despejar o adoçante na xícara ele resolveu novamente se meter no meu café: não faça isso, vai cometer um pecado. Despejei como se não tivesse escutado sua sugestão, misturei o adoçante com a colherinha e me preparava para o primeiro gole quando novamente, e agora com uma voz chorosa, imitando uma criança, ele resolveu abrir a boca: perdeu, perdeu, perdeu a virgindade e agora é para sempre e na hora da morte amém. Não sei qual era o meu semblante no momento em que me virei e olhei para ele, sei apenas que ele deu dois passos para trás e disse: entendi, entendi, não precisa dizer nada, já estou indo, fui, deu mais alguns passos para trás e continuou repetindo, fui, desculpa aí, fui, entendi, e definitivamente para meu alívio e o da atendente ele foi embora. O que fazer com um tipo desses? A vontade é mandá-lo calar a boca e meter o bico no café da mãe dele, mas a gente por constrangimento acaba forçosamente rindo ou espera paciente que a pessoa se toque. Não sei o que pode ser pior, encontrar pela frente gente mal educada com perfil coerente de gente mal educada ou gente mal educada travestida de bem humorada. Outro dia vi um sujeito com uma inscrição na camiseta: “Fica na sua que eu fico na minha”, achei meio esquisito, mas agora entendo, se alguém souber onde posso comprar um dessas, por favor me envie o endereço. Sei, vou receber e-mails dizendo que estou ficando velho e ranheta, não tenho senso de humor e blá blá blá. Pode ser verdade, mas não encho o saco de ninguém. Fico na minha, e deixo os outros ficarem nas deles.
2 comentários:
Sergio, quando encontrar a camiseta compra algumas pra mim também, isso mesmo, algumas, pois irão se estragar com o tempo e vou usá-las cada dia mais. Abraços, Diniz
Quero uma dessa também! Quem encontar primeiro, avisa. Combinado?
Beijos, Tarsila
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