25.5.10

UMA SOLIDÃO RUIDOSA

No último fim de semana ganhei de um querido amigo um livro de presente. Nunca havia ouvido falar do falecido autor de nacionalidade tcheca, Bohumil Hrabal. O livro se chama “Uma solidão ruidosa”, tem pouco mais de cem páginas e sua narrativa é peculiar. O livro foi publicado em 1976 e o leitor desavisado pode deduzir que o romance é mais um dos muitos outros desta época cujo assunto é o regime comunista imposto na então Tchecoslováquia. O personagem do livro, assim como o próprio autor, passou os últimos 35 anos compactando papel numa velha prensa hidráulica, num porão úmido e infestado de ratos. Toneladas de livros passaram por suas mãos e ele salva muitas das obras. A história é simples e recheada de citações e passagens desses livros. Durante a leitura lembrei-me dos outros (poucos) autores tchecos que já li, como Viktor Klima e Milan Kundera e consegui identificar uma vitalidade que parece estar por trás de cada uma de suas palavras. Independente da história que esses autores estão nos contando, a forma narrativa energética sobressai. Particularmente neste pequeno livro, isso fica claro em cada um dos capítulos. Talvez em razão da divisão deles, compostos cada um de um único e longo parágrafo. Li rapidamente, acompanhando o fluxo rápido das idéias do autor. Muito antes de ser fisgado pela história, fui levado pela força e vitalidade da forma narrativa. Um livro que não é difícil de ler, mas que por outro lado não provoca grande prazer, não chega a emocionar, mas te conduz ao fim por força da fluidez. Não mencionei Kafka propositalmente. Mesmo porque sua forma narrativa e originalidade literária não caberiam em nenhuma moldura. Em seus livros, essa vitalidade também está presente, mas ao contrário de seus conterrâneos, a própria história serve de meio de transporte para levar o leitor adiante. Em “A metamorfose”, obra escrita quando o escritor ainda não havia completado trinta anos de idade, isso fica muito claro, a cada parágrafo avançado, a vontade de desvendar o próximo fica maior. “Uma solidão ruidosa” tem apenas 106 páginas e pode ser comparado a um desses carros antigos já extintos e expostos em salões de automóveis internacionais: démodé do ponto de vista estético, mas de qualidade inquestionável.

Um comentário:

Lícia disse...

Bela crítica. Mais um talento!
kkk!!! Beijos.