Fui assistir o último filme do diretor Xavier Beauvois, “Des hommes et des Dieux” que poderia ser traduzido para “Os homens e os Deuses” em português. O filme conta a história verdadeira de oito sacerdotes franceses que foram assassinados na Argélia na década de 90. O tema do filme ainda mexe muito com os franceses, as antigas colônias continuam ocupando um bom espaço dentro do imaginário da Grande Nation. Roteiro muito bem feito, a história é contada dentro do ritmo de vida dos sacerdotes, isto é, com muita calma, através do cotidiano deles o diretor nos faz conhecer a vida desses homens que se dividiam entre trabalhos junto aos moradores da cidade e o exercício da fé. Culturas e religiões que conviviam em paz, tinham uma relação de ajuda e respeito. Onde o Estado negligenciava suas obrigações os sacerdotes davam assistência à população local. Mais ou menos como acontece no Brasil, onde igrejas de todas as tendências ou o crime organizado assume o papel do Estado construindo quadras esportivas, creches ou implantando postos médicos em favelas ou bairros periféricos e conquista a população ignorada pelos governantes. Com a chegada dos radicais islamitas eles correm perigo, são ameaçados e são obrigados a pensar em deixar o país. Mas como deixar uma população pobre e carente de todos os recursos na mão? O sentimento de que o lugar deles era ali, ajudando o próximo, era muito forte, além disso, abandonar o mosteiro seria dar espaço ao radicalismo, fugir daquilo que haviam se proposto enquanto homens de fé. Optam por ficar e o resultado todo mundo sabe, foram assassinados e até hoje ninguém sabe como. O filme está levando um público muito grande as salas de cinema. Tem todas as qualidades para garantir um bom público, bons atores, bela fotografia, tensão, é realista e documenta sem ser didático, ou como se fosse ficção, e acho que essa última qualidade (contar uma história real como se ela fosse uma história inventada) é o segredo do filme. Cada vez mais custo a encontrar diferenças entre o que é real e o que é ficção. Vida real e vida inventada são uma única vida, a imaginação é o fermento das duas. Precisamos dos fatos para confirmar a veracidade da história, mas eles também podem ser inventados (não é o caso do filme). Então para mim tudo é história, não existe estória, somente história, que pode ser bem ou mal contada.
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