26.9.10

TERRITÓRIO NADA NEUTRO

O primeiro domingo do outono não foi nada agradável. Ventou, fez frio e acinzentou não apenas o céu, mas também o estado de espírito das pessoas. Passei a manhã lendo o novo livro do Michel Houellebecq, “La carte et le territoire” (não sei se já foi traduzido e publicado no Brasil) que está sendo muito elogiado pela crítica, e como sempre o autor de “Partículas Elementares” (livro publicado pela Companhia das Letras no Brasil) provoca ou amor ou ódio, ninguém fica em cima do muro. Eu faço parte dos que gostam dos livros dele, gostei muito do Partículas e estou gostando muito do novo. Houellebecq escreve zombando da gente e dele mesmo, isso não quer dizer que seus livros são engraçados, não, eles são ácidos e cinzentos como a chuva fina que caia na cidade hoje. Se no “Partículas Elementares” ele desceu a lenha na geração 68 e em quase todos os dogmas que eles deixaram de herança, no novo “La Carte et le territoire” ele explicita a superficialidade do mundo em que vivemos hoje. O que é real e o que não é, o que quer dizer qualidade num mundo inteiramente construído por interesses econômicos e toda a superficialidade cultivada e adorada por pseudo intelectuais desvairados com o poder e levados a sério por uma geração cada vez mais ignorante e por isso mesmo sem opinião. Seu novo livro tem uma narrativa ágil, é contemporâneo na medida em que expõe a nós mesmos e zomba da pretensa seriedade atribuída a algumas obras e seus artistas. São personagens do livro não apenas Jeff koons e Damien Hirst, mas também ele mesmo Hoellebecq aparece na narrativa. Gosto da maneira pouco artificial de como ele registra nosso tempo em sua narrativa, e também do perfil psicológico de seus personagens. Não fazer parte do establishment e fazer questão de dizer isso em seus livros provoca inimizades e desprezo pela maioria de críticos, mas Hoellebecq parece não estar nem aí com o desprezo dos outros, e me deixa a impressão de que se preocupa muito mais com o seu próprio aborrecimento diante de um mundo artificial e de egos inchados. Recomendo, compre um saquinho de sal de frutas e boa leitura.

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