21.11.10

INSUSTENTÁVEL LEVEZA


Durante a semana várias vezes refleti sobre um sentimento que vem ocupando um espaço cada vez maior em mim. O desacreditamento. Tenho desacreditado progressivamente. Os motivos que vêm dando força a esse sentimento eu não saberia traduzir em palavras. Desconfio que eles têm a ver com envelhecer. Envelhecer num sentido mais literal, quero dizer, do tempo que passa e que me obriga a aceitar as coisas mais como elas são e menos como gostaria que fossem, assim como a mim mesmo como sou. O cansaço também pode ter contribuido. Talvez. De uns tempos para cá venho desligando os cabos que me conectam a tubos geradores de esperança e de esperanças alheias. Leia-se aí também a esperança que não é a minha, que gostariam que eu compartilhasse e que ao me mostrar desinteressado sou visto como um caso perdido. Fui de repente dizendo não e arrancando os fios conectores. Meu corpo e minha mente começaram a exigir de mim mesmo uma postura mais alinhada ao homem que penso ser. Ter que acreditar é uma atividade exaustiva. Não vou mais me esforçar. É isso. E pela primeira vez parece que não vou sentir dor, nenhuma até agora. Nem depressão. Nem tristeza. Nem a descrença foi originada por algum tipo de revolta. Não estou me rebelando. Ao contrário, estou me aliviando. A descrença é leve como uma pluma que cai lentamente do 15 andar. E me parece muito mais saudável. De qualquer forma, respiro melhor, caminho com mais desenvoltura, falo com as pessoas não esperando que elas me digam nada, aliás, não espero mais nada. Não espero e não me surpreendo. E não me amedronto com o isolamento decorrente dessa descrença. Não compartilho a idéia de que tudo é relativo e depende do ponto de vista de cada um. Quero dizer que não resolvi acometer-me por essa descrença. Ao contrário, ela esteve sempre presente, eu apenas passei a aceitá-la. Deve ser mais ou menos isso. Também não tenho mais vontade de analisar-me. Nem acho que é só uma fase e que ela passará. Digamos que a partir de agora começo a me sentir um homem melhor simplesmente porque acredito menos.

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