Ao vasculhar as bancas de um pequeno sebo próximo a Sorbonne, encontrei um pequeno livro intitulado “Petits écrits français” (Pequenos escritos/textos franceses) que como o próprio texto diz, traz alguns textos, anotações e também algumas cartas trocadas entre Schopenhauer e seu amigo de infância Anthime Gregoire de Blésimaire. A história é a seguinte: Anthime era filho de um amigo do pai de Schopenhauer, e esse último resolveu enviar o filho a Havre para que o mesmo passasse uma temporada (dois anos 1797-1799) e fosse educado nos moldes burgueses da época. O pai de Schopenhauer esperava assim que o filho seguisse sua profissão de comerciante. “Meu filho deve ler os grandes livros do mundo” ele disse esperando que no futuro o filho realizasse seu sonho. Mas como todo mundo hoje sabe o filho preferiu ser filósofo a ser caixeiro viajante. Encontrei o livro por acaso e paguei apenas 1 euro quando ia a pé para a universidade. Atravessei a ponte de Sully, passei pelo instituto do mundo árabe e vi o sebo do outro lado da rua antes de chegar a rue Monge. Fazia um frio danado, mas não resisti e parei para fuçar os livros. Depois como de costume entrei no Café Vert para esperar Luca, um amigo que faz o curso comigo antes de irmos para a aula. Comecei a ler o livro no Café e só parei no fim da aula sobre a crítica da consciência. Não consegui me controlar tamanho prazer que a leitura me proporcionou. Schopenhauer foi mais forte que Poulet e sua escola de Geneva, tema da aula que eu deveria ter prestado atenção hoje. Que delícia, o tempo passou e eu nem percebi. Entre outras cartas, o livro traz uma que foi enviada a um editor francês chamado Aubert de Vitry, na qual ele se oferece para fazer as revisões das obras de Goethe que foi seu amigo íntimo. Sua humildade e delicadeza no "manuseio" das palavras, e também sua segurança em afirmar que ninguém mais além dele seria capaz de revisar Goethe são de emocionar. O editor, apesar de todas as apresentações e referencias a seu nome, na época já um homem conhecido e publicado, o ignorou. É isso. Paris tem dessas coisas, sebos onde os livros parecem estar esperando por você. Dia cinza, frio, sua moral está murcha como uma ameixa e o livro sente isso no momento em que bate o olho em você. Você pega o bichinho, vira de um lado, do outro, abre para ver se está em bom estado. Nem percebe que ele entrou na sua mente e sussurrou “me compra, me compra”. Pensa que é livre para escolher e acaba comprando. Então começa a ler a primeira página e pronto, a vida sorri para você novamente.
22.11.10
QUEM ESCOLHE QUEM
Ao vasculhar as bancas de um pequeno sebo próximo a Sorbonne, encontrei um pequeno livro intitulado “Petits écrits français” (Pequenos escritos/textos franceses) que como o próprio texto diz, traz alguns textos, anotações e também algumas cartas trocadas entre Schopenhauer e seu amigo de infância Anthime Gregoire de Blésimaire. A história é a seguinte: Anthime era filho de um amigo do pai de Schopenhauer, e esse último resolveu enviar o filho a Havre para que o mesmo passasse uma temporada (dois anos 1797-1799) e fosse educado nos moldes burgueses da época. O pai de Schopenhauer esperava assim que o filho seguisse sua profissão de comerciante. “Meu filho deve ler os grandes livros do mundo” ele disse esperando que no futuro o filho realizasse seu sonho. Mas como todo mundo hoje sabe o filho preferiu ser filósofo a ser caixeiro viajante. Encontrei o livro por acaso e paguei apenas 1 euro quando ia a pé para a universidade. Atravessei a ponte de Sully, passei pelo instituto do mundo árabe e vi o sebo do outro lado da rua antes de chegar a rue Monge. Fazia um frio danado, mas não resisti e parei para fuçar os livros. Depois como de costume entrei no Café Vert para esperar Luca, um amigo que faz o curso comigo antes de irmos para a aula. Comecei a ler o livro no Café e só parei no fim da aula sobre a crítica da consciência. Não consegui me controlar tamanho prazer que a leitura me proporcionou. Schopenhauer foi mais forte que Poulet e sua escola de Geneva, tema da aula que eu deveria ter prestado atenção hoje. Que delícia, o tempo passou e eu nem percebi. Entre outras cartas, o livro traz uma que foi enviada a um editor francês chamado Aubert de Vitry, na qual ele se oferece para fazer as revisões das obras de Goethe que foi seu amigo íntimo. Sua humildade e delicadeza no "manuseio" das palavras, e também sua segurança em afirmar que ninguém mais além dele seria capaz de revisar Goethe são de emocionar. O editor, apesar de todas as apresentações e referencias a seu nome, na época já um homem conhecido e publicado, o ignorou. É isso. Paris tem dessas coisas, sebos onde os livros parecem estar esperando por você. Dia cinza, frio, sua moral está murcha como uma ameixa e o livro sente isso no momento em que bate o olho em você. Você pega o bichinho, vira de um lado, do outro, abre para ver se está em bom estado. Nem percebe que ele entrou na sua mente e sussurrou “me compra, me compra”. Pensa que é livre para escolher e acaba comprando. Então começa a ler a primeira página e pronto, a vida sorri para você novamente.
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