Já são mais de quatro meses que estou morando aqui. O tempo impõe um cotidiano, o que não deixa de ser saudável, mas apesar dele a cidade e sua paisagem mutante não deixam de me surpreender. Logo cedo quando ia a pé para a universidade e atravessava a Pont de Sully, o sol começava despontar e iluminou as costas da Notre Dame e o pequeno parque anexo. Da ponte a imagem era tão bela que agora ao tentar descrevê-la me dou conta da impossibilidade. Poderia escrever sobre a coloração das árvores e das trepadeiras avermelhadas que se agarram aos muros que margeiam o Sena entre a Ile de St Louis e o lado esquerdo da cidade, mas se for um pouco além na descrição da imagem, vou me perder na cafonice. Não sei montar um power point e nem quero. E acho que estou cansando de falar sobre o que sinto. Estou me calando.
Como descrever emoções sem babar? Difícil. Alguns autores conseguem, é o caso de Proust, Mann, Hustvedt, muitos fotógrafos conseguem, mas também os pintores podem se perder ao tentarem passar para as telas o que sentem. Pensei nisso enquanto tentava me desviar das centenas de pessoas e me aproximar das telas de Monet no Grand Palais. Antes uma pergunta. Por que? Por que existe tanta gente no mundo, e quase toda essa gente quer ver a exposição na mesma hora em que eu estou lá? Antes de me acusar de egoísta já vou avisando que não estou nem aí, queria o Grand Palais só para mim ou quase, como quando estive lá há mais de dez anos para ver a exposição de Delacroix e só encontrei alguns gatos pingados menos mal educados. Mas porque é Monet e a representação em tela de seu jardinzinho colorido toda a cafonalha do mundo se reúne com seus celulares equipados com máquinas fotográficas para registrar que passaram por lá. Lembre-se de como é ter que passar pelo pedágio nos feriados, ou ainda das filas de supermercados de Ubatuba ou Guarujento nesses dias, das praias lotadas, dos sujeitos segurando as latinhas de cerveja enquanto escutam o último funk da cachorra no volume máximo dos auto-falantes dos seus possantes ou dos mauricinhos e suas patricinhas andando de mãos dadas na orla da praia. É mais ou menos assim. Vou ter que voltar, ou me esconder no banheiro do museu e passar a noite dentro dele. De qualquer maneira, voltando a descrição das emoções, mesmo depois de quase morrer esmagado pelos visitantes da exposição, restam ainda algumas dentro do meu coração. São poucas, e miúdas, mas melhor assim. Muito Monet junto pode começar a cheirar a caramelo, é bom de ver, mas em doses excessivas pode fazer mal ao fígado. O excesso na descrição é o veneno. Mas como saber o que é excesso e o que não é enquanto agente descritivo? Numa situação em que estiver por alguma razão se sentindo cheio de emoção, escreva o que está sentindo e depois leia em voz alta e de preferência em frente a um espelho, se você se achar ridículo é porque é ridículo mesmo, não duvide de sua intuição. Rasgue ou apague tudo o que escreveu e esqueça. Emoção é coisa para amador, fica na superfície, é a espuma do sabonete, já o sentimento é o próprio sabonete.
Como descrever emoções sem babar? Difícil. Alguns autores conseguem, é o caso de Proust, Mann, Hustvedt, muitos fotógrafos conseguem, mas também os pintores podem se perder ao tentarem passar para as telas o que sentem. Pensei nisso enquanto tentava me desviar das centenas de pessoas e me aproximar das telas de Monet no Grand Palais. Antes uma pergunta. Por que? Por que existe tanta gente no mundo, e quase toda essa gente quer ver a exposição na mesma hora em que eu estou lá? Antes de me acusar de egoísta já vou avisando que não estou nem aí, queria o Grand Palais só para mim ou quase, como quando estive lá há mais de dez anos para ver a exposição de Delacroix e só encontrei alguns gatos pingados menos mal educados. Mas porque é Monet e a representação em tela de seu jardinzinho colorido toda a cafonalha do mundo se reúne com seus celulares equipados com máquinas fotográficas para registrar que passaram por lá. Lembre-se de como é ter que passar pelo pedágio nos feriados, ou ainda das filas de supermercados de Ubatuba ou Guarujento nesses dias, das praias lotadas, dos sujeitos segurando as latinhas de cerveja enquanto escutam o último funk da cachorra no volume máximo dos auto-falantes dos seus possantes ou dos mauricinhos e suas patricinhas andando de mãos dadas na orla da praia. É mais ou menos assim. Vou ter que voltar, ou me esconder no banheiro do museu e passar a noite dentro dele. De qualquer maneira, voltando a descrição das emoções, mesmo depois de quase morrer esmagado pelos visitantes da exposição, restam ainda algumas dentro do meu coração. São poucas, e miúdas, mas melhor assim. Muito Monet junto pode começar a cheirar a caramelo, é bom de ver, mas em doses excessivas pode fazer mal ao fígado. O excesso na descrição é o veneno. Mas como saber o que é excesso e o que não é enquanto agente descritivo? Numa situação em que estiver por alguma razão se sentindo cheio de emoção, escreva o que está sentindo e depois leia em voz alta e de preferência em frente a um espelho, se você se achar ridículo é porque é ridículo mesmo, não duvide de sua intuição. Rasgue ou apague tudo o que escreveu e esqueça. Emoção é coisa para amador, fica na superfície, é a espuma do sabonete, já o sentimento é o próprio sabonete.
Nenhum comentário:
Postar um comentário