23.8.08

Mundo Mix

Assim como faço em São Paulo, aqui no Rio gosto de poder caminhar e descobrir a cidade. A percepção de proximidade com o cotidiano das outras pessoas me parece mais intensa na baixada fluminense. Pode ser por estar mais atento a nova paisagem, mas há uma “oferta” maior de tipos nas ruas. Expressões estranhas chamam atenção. Ontem presenciei um casal discutindo. Eu caminhava alguns metros na frente deles e não pude evitar (também não tentei, porque a discussão era interessantíssima). Depois de se acusarem mutuamente e chegarem a conclusão de que deveriam cada um tomar seu próprio rumo, a moça finalizou a discussão gritando o seguinte para o rapaz: “Me erra cara, me erra!”

Nas conversas, o que me enche muito o saco é a comparação entre as cidades. A supervalorização de uma em detrimento da outra. Detesto bairrismo e qualquer tipo de regionalismo. No que as cidades de São Paulo e Rio oferecem de melhor, elas são imbatíveis e ponto final. É isso o que vale. A diversidade faz a diferença, e os pontos negativos são muito parecidos. Na maioria das vezes são produtos do descaso dos governantes, problemas nacionais que se manifestam e apresentam de maneiras diferentes conforme a região do país.

No dia do lançamento, enquanto fazia hora na livraria antes do primeiro convidado chegar, achei um livrinho bem pequenininho do Sêneca chamado “Da vida feliz”. Uma delícia. Uma pequena passagem: “Os filósofos não praticam o que dizem. Contudo, já fazem muito em expressar bem o que concebem com uma mente reta: realmente, se operassem conforme as suas palavras, quem haveria de mais feliz do que eles?” Acho interessante a forma narrativa desses filósofos. Não conheço os textos originais, nunca os li, conheço alguns traduzidos e publicados no Brasil. Tenho a impressão de que alguns autores de livros de auto ajuda se utilizam do formato utilizado pelos pensadores gregos para divulgarem seus segredos para a busca do que propõem. Simplificando, faça isso ou aquilo para conseguir isso ou aquilo. A fórmula do começo, meio e fim, tudo programado, ignorando adversidades e diferenças de caráter e personalidade. Pelo amor de Deus, não estou falando de qualidade de pensamento, apenas do formato na narrativa!

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