5.8.08

ONDE ESTÃO OS CRÍTICOS?



Nos últimos dias venho pensando com freqüência sobre a crítica literária e o seu papel. Não apenas sobre como ela pode servir de parâmetros ao leitor que pode se interessar ou não por um livro ou autor depois de ler a análise do crítico, mas também na função que ela pode ter, quando bem feita, ao próprio escritor analisado. Onde estão esses críticos? Onde foram parar os cadernos dominicais que falavam sobre literatura? Lembro-me de que quando era criança, mesmo ainda ser compreender inteiramente o que lia, folheava com curiosidade o caderno sisudo que vinha aos domingos dentro dos jornais, especificamente o do Estadão. Reconheço a mudança na vida das pessoas e também no comportamento, mas não entendo que os grandes jornais do país tenham que necessariamente direcionar seus cadernos dedicados a cultura, para a vida social das pessoas. O que fazem, onde foram, com quem estão namorando, onde dançam, onde comem, para onde viajam e etc... Vejo com decepção que os jornais se adaptaram aos novos tempos adequando sua linha editorial ao interesse de uma parcela de leitores e ajudam dessa forma a afundar ainda mais a já pobre produção cultural do país. Onde estão as crônicas diárias? Lá escritores, dramaturgos, críticos, diretores de cinema tinham suas colunas diárias e opinavam um pouco sobre tudo que acontecia no país. Dessa forma, ficávamos conhecendo um pouco de seus pensamentos e do que estavam lendo ou vendo. Não são mais os jornais e seus cadernos que necessariamente interferem no pensamento dos leitores e oferecem alternativas de informação cultural apontando tendências e as discutindo. Por que não ter opinião própria? Por que não se arriscar? Por que apenas os números das vendas devem importar? Lemos constantemente ou ouvimos as pessoas criticando a globalização e o nivelamento por baixo que ela muitas vezes provoca, seja qual for o setor, mas quem deveria realmente exercitar o papel crítico e insistir na informação não o faz, ao contrário, se rende ao que de pior ela nos oferece. Tenho saudades das colunas do Flavio Rangel e do Paulo Francis, de gente que tinha opinião e comprava briga, mas que ao mesmo tempo era ilustrada e nos transmitia informações importantes. Você até podia discordar do que eles falavam, mas dentro dessas crônicas havia dicas de autores que eu jamais havia lido, ou de filmes e peças teatrais que eu ficava esperando para ver. Depois reclamam que as salas de cinema estão vazias ou que o número de leitores está caindo, ora, mas se o que fazem é exatamente cultuar o efêmero e as celebridades instantâneas, inevitável que ninguém queira perder tempo com o que aconteceu ontem a noite ou hoje de manhã, ou até com um rosto que de um dia para o outro eu não sou mais capaz de reconhecer.

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