10.8.08

O HOMEM NO ESCURO


O tempo é a base sólida para tudo. Invisível, mas de uma solidez sem medida de comparação com qualquer material conhecido pelo homem. Não vou filosofar, mesmo porque não seria capaz. Trabalho com a palavra, é nela que penso poder me movimentar livremente. Mas voltando ao tempo. Venho pensando nisso desde que acabei de escrever meu novo romance. Dar um tempo. O que fazer com o tempo? No vazio, leio. Mas tenho a cabeça no texto que está na memória do computador e fica de lá me espezinhando em telepatia. Vou ao cinema. Assisto filmes. Encontro com amigos. Poucos. Muito poucos, por escolha. Não tenho paciência. Fala-se muito, e muito do que se fala não me interessa. Não gosto do que está aí e de como está e se apresenta. Gente multi-mix-projeto-de-tudo-agora, estão em todos os lugares ao mesmo tempo, são “conectadas”, pensam ser tudo e por isso não são nada, fazem tudo e não fazem nada, falam muito e produzem espuma, questão de tempo e vão desaparecer. Não têm estrutura para se manterem sobre a base sólida do tempo. Quero meu texto. Busco meu texto. Prefiro a companhia fiel e real do meu texto. É nele que acredito. Nos personagens fictícios. Na ficção que é muito mais interessante que a realidade que estamos vivendo.

O novo livro do Paul Auster “Homem no escuro”. Ainda não chegou nas livrarias. Ganhei de presente de uma amiga. Comecei a ler ontem à noite e varei a madrugada. Gosto muito de como ele faz as interferências de outras histórias no texto. O universo particular de um homem que sofreu um acidente de carro e está numa cadeira de rodas e os acontecimentos de seu tempo (olha ele aí de novo), entrelaçados com as vidas de sua filha e neta. A guerra, a decadência da sociedade americana, a política atual, o onze de setembro e etc. Tudo isso está na memória do narrador, mas o autor nos conta essas histórias utilizando-se de vários recursos narrativos. E há ainda espaço para pequenas análises sobre filmes que enriquecem ainda mais o romance. Parece fácil, lógico, mas sente na frente do seu computador e tente escrever uma história. É preciso talento e capacidade, o que Auster tem de sobra.

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