10.7.09

É TUDO ARTE, OU É POR KILO?

Não conheço profundamente a história de Gregoire Bouillier e Sophie Calle e acho que eles podem fazer o que quiserem com a vida deles, porém me sentiria profundamente desconfortável no lugar de qualquer um dos dois. Sou avesso a exposições públicas desnecessárias do que possa somente interessar a mim mesmo ou pessoas com quem me relaciono. Talvez seja apenas mais um truque de autopromoção, o que não duvido, em tempos como o que estamos vivendo, no qual a exposição da vida intima passou a ser um impulso para se fazer rapidamente conhecido e conseqüentemente vender mais. Mesmo assim. Transformar experiências pessoais em produção artística é verdadeiramente o significado da arte, mas acho bastante doentio essa lavação de roupa. Na verdade acho muito pouco para se considerar algo de interesse público. Porque não há um trabalho de elaboração pessoal feito pelos próprios envolvidos, mas sim a mera exposição dos fatos. Não vou entrar no mérito e discutir se o sujeito deve ou não deve acabar uma relação por e-mail, por carta ou pessoalmente. Estou falando de outra coisa. Falo da cultura da auto exposição, e do equívoco que ela vem provocando no jeito de pensar das mentes contemporâneas. Enquanto escrevo tenho a impressão de que sou um bicho pré histórico, já que ao contrário de muita gente, continuo entendendo que arte é decorrência de trabalho e elaboração feita pelo próprio artista, e nesse caso acho que se houve elaboração (acho difícil de acreditar pelas declarações dadas em suas entrevistas), ela vem de fora e da forma mais primitiva que existe. Eu distribuo minhas cartas para cento e tantas mulheres (por que os homens não foram incluídos?) lerem e dizerem o que pensam do fora que levei do meu amante, filmo tudo, monto uma exposição e corro o mundo com ela. Me distancio de um sentimento pessoal e o transformo em uma obra de arte. Mais do que isso, quero que todo mundo opine sobre ela. Sophie disse numa entrevista que aquilo não tem nada a ver com seus sentimentos, mas sim com imagens. Eu já acho que tem muito de senso de oportunismo nisso. Esta bem, vou me esforçar para acreditar nela. Bem, se ela própria conseguir se ver nas imagens, a exposição já valeu para alguma coisa. E se depois de se ver ainda consiga, mesmo que distanciada, sentir alguma coisa, então melhor ainda, para ela.

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