15.7.09

TUPPERWARE

Fui a Curitiba para a derradeira despedida de um querido amigo de muitos anos. Consegui quase na última hora um lugar no vôo da manhã. Durante a viagem foi inevitável relembrar da época em que nos conhecemos, quase trinta anos de amizade. Um exercício de puxar da memória histórias que eu já nem mais me lembrava. Ao chegar em Curitiba reencontrei outros amigos que não via há bastante tempo. Durante o velório resolvemos sair para comer alguma coisa juntos. Impossível não fazer comentários sobre passagens da vida do amigo que partiu para outra, as contradições que existem numa mesma pessoa, o lado bom, o lado ruim, as excentricidades combinadas com atos de generosidade. Não sei se acontece dessa forma com todo mundo, mas quanto mais eu vivo, mais acredito na realidade fictícia registrada dentro da minha cabeça, um real arquivo de memórias inventadas. Porque não existe uma só realidade, mas várias. Cada um de nós armazena de forma ficcional a imagem que lê daqueles que conhecemos. Uma mistura do que o outro realmente é e o que a gente conseguiu ler e quis entender. Papo psico esse, mas é o que está ocupando meus pensamentos.

Retornei a noite, e cada vez mais constato meu medo de viajar de avião. Odeio ficar dentro dessas cápsulas voadoras computadorizadas. Sei que é rápido e mais seguro que outros meios de transportes, mas vou rezando e volto implorando para a coisa não cair. Durante meu martírio penso: e se um fiozinho que liga uma coisa a outra queimar e o sistema falhar? E se...

Sinal dos tempos é a sopinha de tomate que nos ofereceram a bordo. A sopinha é mantida numa garrafa térmica e servida em potinhos de papel. Nojo daquele líquido amarelado. Agradeci, mas não aceitei. Prefiro me alimentar das minhas velhas imagens. Até sabor elas têm. E não vêem servidas para serem tomadas com colherzinhas de plástico. Não sei de onde essa gente tira essas idéias práticas e sem graça. Teria preferido um saquinho de amendoim a tomar aquela sopa.

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