Pedi uma sugestão de xarope para o sujeito que me atendeu na farmácia. A resposta foi, nós estamos proibidos de fazer qualquer tipo de sugestão a clientes. Então tá. Eu vou mencionar alguns nomes de xaropes que conheço e você me diz qual é o melhor, está bom assim para você? Tudo bem. Então citei uns quatro ou cinco. Três deles não são mais produzidos e dois deles não servem para o que o senhor está precisando. O que fazer então? Vocês têm um farmacêutico de plantão? Não senhor. Outro dia eu também estava com tosse e tomei o xyz e funcionou. Mas eu não posso indicar, se o senhor me disser que quer experimentar tudo bem, mas eu não posso prometer. Já entendi. Me dá esse que você tomou então. Parece ficção, mas não é, e foi o diálogo que tive com o vendedor da farmácia para comprar um xarope. Até pouco tempo a gente media a pressão, tomava injeção e conseguia ter um diálogo razoável com o balconista da farmácia, mas agora é assim, eles não podem mais sugerir nada, nem fazer nada, só estão ali para vender o que você pedir.
Hoje mandei um e-mail para a prefeitura de São Paulo reclamando da imundice do “entorno” do meu bairro. Coloquei a palavra entorno entre aspas porque eles adoram usar esses termos, entorno, antes usavam arredores quando queriam falar sobre lugares próximos, mas agora usam entorno. Pois deveriam vir aqui nos arredores de Sta Cecília, Barra funda, Higienópolis, e visitar todo o entorno, começando pelas ruas próximas da estação Marechal do metrô para ver com os próprios olhos o lixo e a imundice. Tragam vassouras, Prefeito Kassab, o senhor que tem ótimas iniciativas, como a idéia da cidade limpa, que tal distribuir vassouras para a população moradora de rua poder limpar o lixo acumulado nas calçadas. Há vinte metros da entrada do meu prédio hoje de manhã tinha uma moça dormindo entre um latão de lixo e outro, no “entorno” dela havia muita sujeira, montes de sacos plásticos, e uma plantinha ressecada. Não é mais uma pessoa. Não é um animal. Não é nada. Está ali, e poderia ser qualquer coisa, menos gente. Gente não pode ser tratada desse jeito. Não. Não acho que tudo seja culpa do poder público, mas que ele é ausente, ah isso é. Porque senão a cidade onde moro seria diferente.
Hoje li no Estadão que os moradores dos jardins, lá onde duas ou três mansões foram assaltadas nos últimos dias, se organizaram e estão pedindo reforço policial e ronda vinte e quatro horas nas ruas do “entorno”. Parece que já foi providenciado pelo subsecretário ou sei lá quem for. Será que alguém poderia avisá-los que não adianta só se organizar para se proteger? Aqui onde moram classe média e congêneres, ninguém se organiza para nada, a não ser para imitar os péssimos exemplos de seus vizinhos dos jardins. Aqui se sonha em ficar mais rico e poder ir morar num outro prédio onde o muro é mais alto, tem porteiros capangas que usam óculos paraguaios raybans e se comunicam com radinhos para abrir os portões das garagens ou das gaiolinhas, quadrado onde os visitantes e moradores devem se identificar para receberem permissão e entrar na própria residência. Uma vizinha me disse é chique e valoriza o imóvel. Para ela tudo bem sair do prédio e dar de cara com a moça/lixo dormindo na calçada, ela nem enxerga a moça/lixo, já que quase nunca anda a pé, o que importa é a segurança interna do prédio. Vou me internar.