9.9.09

TRÓLEIBUS

Hoje voltei para casa de ônibus elétrico. Odeio usar a palavra adoro, mas adoro ônibus elétrico. Peguei ele porque queria comprar pão na padaria Aracajú, que fica exatamente na esquina da rua Aracajú com Maranhão e faz um dos melhores pães da cidade, e eu sabia que essa linha de ônibus passa por lá. Sentei no último banco, que é mais alto que todos os outros e você tem uma vista geral de dentro e de fora do ônibus. Ai que delícia. É silencioso, espaçoso, por mim só existiriam ônibus elétricos. Do meu lado esquerdo um rapaz com um layout modernésimo lia adivinhe o que? Guimarães Rosa. Do lado direito um outro jogava algum joguinho barulhento no celular. Na minha frente bancos onde quem senta obrigatoriamente olha para quem está sentado no último banco, isto é, são invertidos e os passageiros dão as costas para o motorista. Num deles um casal de meninas se beijava apaixonadamente. E continuou se beijando apaixonadamente, sem se desgrudar nenhum minuto até o ponto em que eu saltei. Devem estar com as bocas inchadas. Nada mais interessante que observar rostos, trejeitos, modos de vestir e de se comportar das pessoas. Como por exemplo, o senhor já de idade avançada que tinha um tique nervoso, o de a todo instante limpar a manga do pulôver no nariz, ou será que ele limpava o nariz no pulôver? Não sei, agora me confundi. Também não sei se ele estava nervoso por causa das meninas ou o tique nervoso era antigo. E tinha também um garoto especial, que não parava de perguntar a mãe sobre tudo que ele via na rua com uma freqüência e insistência tão absurda, que a mãe decidiu tapar a boca dele com a mão. Não adiantou, ele continuou perguntando mesmo sob a pressão da mão de sua mãe na sua boca, e como todos nós passageiros começamos a rir da situação, ele achou mais graça ainda no que fazia. A sensação era a de que lá dentro o tempo era outro. Diferente daquele onde eu me encontrava um pouquinho antes de entrar no ônibus e me sentar. Desci, comprei meus deliciosos pães, e para completar meu nostálgico fim de tarde ganhei do meu padeiro preferido um docinho chamado toicinho do céu.

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