4.1.10

MENOS É MAIS

Não sei se por estar envelhecendo ou por força das inúmeras correções que faço em meus textos, tentando enxugá-los e deixá-los o mais objetivo possível, de uns tempos para cá minha paciência com pessoas que se alongam muito quando querem me contar uma história está se exaurindo. Tenho um amigo que antes de me dizer que encontrou fulano ou sicrano me pergunta: advinha quem eu encontrei? Ou quando quer me narrar um acontecimento se alonga tanto nos detalhes que no meio da história já nem sabe mais o que queria me contar. Tenho que me controlar. Confesso que às vezes não consigo esperar e o interrompo e peço para ele ir direto ao assunto. Não sei o que fazer. Até acho que florear um pouco nos detalhes pode enriquecer a conversa, mas enfiar um jardim inteiro dentro delas passa a ser desrespeito.

“À-propros” exageros e desrespeito, vou entrar num assunto delicado. Estava jantando quando ouvi as chamadas no jornal televisivo, de uma entrevista que seria feita com os pais da menina que morreu soterrada em Angra dos Reis. Não vi. Recusei-me a assistir tal entrevista e mudei de canal. Não tenho dúvidas sobre a imensa dor desses pais, e por isso mesmo não compreendo a necessidade de se falar em público sobre essa dor. Aliás não consigo entender a relação sofrimento exposição. Não vejo também a menor necessidade de um jornal televisivo fazer uma entrevista com o fato ainda tão recente. Não bastam as imagens da tragédia? Se a sociedade perdeu o filtro e precisa filmar ou fotografar a dor e logo em seguida expô-la para assim torná-la real, cabe ao editor do jornal chamar a atenção para a total ausência de necessidade e do quão ridículo é transformar a tragédia em espetáculo.

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