Se alguém dissesse que foi ver uma exposição onde quase a maioria das obras expostas é composta de telas pintadas de preto, fossem elas óleo ou acrílico e na sua total extensão, isto é, o preto toma conta de toda a tela, certamente a gente não conseguiria imaginar o que esse sujeito conseguiu ver. Pois há uma exposição no centro Pompidou com uma coletânea do pintor Pierre Soulages, que nem se eu me esforçasse muito conseguiria expressar em palavras a intensidade de emoções que ela é capaz de provocar. Soulages está com 90 anos agora, e praticamente quase toda a sua vida usou a cor preta para cobrir suas telas. Logo na entrada, as telas ainda em papel, obras de sua primeira frase, já dão mostra do que você verá. Pinceladas grossas e carregadas de tinta preta cheias de movimentos e energia. Então, apenas mais alguns metros e uma variedade de telas enormes, às vezes expostas sozinhas, outras vezes unidas e formando grupos de três ou quatro telas gigantes numa mesma parede, em sua totalidade cobertas de tinta preta te engolem e você não quer mais sair de dentro das salas. O negro das telas te obriga a interiorização, não existe obviedade, há alguns reflexos que dependendo do ângulo escolhido para observar a obra, você lentamente vai descobrindo novos movimentos. São as diferentes texturas que dão forma às telas, e em todas elas você sente a energia do artista. Há ainda uma sala em forma de U toda pintada de preto, nela estão expostas uma série de três telas enormes também pintadas em tinta acrílico preta, são obras mais recentes da década de 90, nas quais finas linhas paralelas, acredito que feitas com um vassourão ou outro objeto parecido, produzem um efeito de baixo relevo provocando a sensação de que elas estão iluminadas. Gostei demais dessa exposição. Quando saí procurei o catálogo e quando o folheei percebi que não teria sentido algum comprá-lo. As fotos não conseguem transmitir nem 10 por cento da qualidade do trabalho e da beleza das telas. Obras que devem ser vistas in natura, fotos e relatos como o que fiz agora só servem para dar uma idéia remota do que elas realmente são.
Aproveitei o dia chuvoso e visitei o acervo permanente do Pompidou. Vi algumas telas do Matisse que não conhecia. Seu auto-retrato diferentemente de suas telas, é carregado e passa a imagem de um homem denso e pesado. Muitas vezes nos vemos ou sentimos diferente da imagem que refletimos, outras são os outros que nos vêem de um jeito que não somos. Entre uma exposição e outra, almocei no restaurante do Pompidou, “Chez George”, uh lá lá, não sabia que era tão caro, mas valeu a pena, comida boa e panorama da cidade inteira a nossa disposição. Lotado, não de turistas, mas de franceses. Quando cheguei em casa meu amigo me disse ser quase impossível conseguir uma mesa à noite no “Chez George”.
Há um pequeno restaurante aqui no Marais que se chama “Le Gai Moulin”. É pequenininho e razoavelmente barato, a comida não é uma maravilha, mas melhor que em muitos outros restaurantes do mesmo nível. Nas terças feira têm um cabaré no subsolo que é muito divertido. Um sujeito se senta ao piano e outro canta canções antigas francesas imitando cantores(as). Eles têm a voz deliciosa e sabem como prender atenção de todo mundo, um deles se “monta” em público e faz outras gracinhas. Na última terça ele resolveu fazer um show do tipo Silvio Santos, no qual tínhamos que descobrir o nome das canções que ele apenas cantava a primeira frase. Quem acertasse levava um cd da dupla. Sebastian e seu amigo italiano que estavam jantando comigo sabiam o nome de todas. Ganharam um cd cada um. Logo que o show terminou um senhor certamente com mais de oitenta anos pediu para cantar algumas canções. O restaurante inteiro acompanhou. Emocionante ver aquela gente ainda muito jovem acompanhá-lo nas canções francesas. O corôa cantava bem e chegou a arriscar passos de dança, mais tarde, o proprietário do restaurante nos contou que ele fez parte de um grupo de muito sucesso há alguns anos, uma espécie de dzi croquetes daqui. Todos os outros já morreram.
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