6.9.10

OLHA A ONDA


No sábado logo que sai de casa notei uma movimentação diferente nas ruas. Viaturas policiais e ônibus fretados pela polícia estavam por toda parte. Perguntei a um amigo com quem fui tomar um café qual era a razão de todo aquele aparato policial e ele me contou que haveria manifestações contra as medidas xenofóbicas de Sarkozy. Comentei sobre essas medidas alguns posts atrás. Pela quantidade de policiais e tropas de choque dispostos em quase todas as esquinas por onde a manifestação passaria imaginei que centenas de milhares de pessoas sairiam as ruas para manifestar seu descontentamento com o governo, mas não, não vi quase nada e no jornal televisivo a notícia foi transmitida sem muitos comentários e os seguintes dados me chamaram atenção: entre 12 e 50 mil pessoas estavam presentes na manifestação. Eu não consigo imaginar um cálculo aproximado tão “desaproximado” como este. Como assim? Entre 12 e 50 mil pessoas há um universo de pessoas, se fosse entre 12 e 15 mil, ou 12 e 20 mil eu conseguiria entender, mas a margem de erro nesse caso é absurdamente elástica. De qualquer forma, 12 ou 50 é pouco, muito pouco.


Não tenho duvidas sobre o processo de idiotização o qual estamos sendo sistematicamente submetidos. Por falta de uma política de educação abrangente que iria desde a alfabetização até a discussão sobre conceitos morais e de ética necessários para uma convivência em sociedade, e pelo aproveitamento desse vazio transformado em terreno fértil para o cultivo do mundo das aparências pelas elites economicamente fortes. Poucas pessoas se atrevem a contradizer em alto e bom som o que vai sendo incorporado e aceito com naturalidade entre nós. Falo do culto hedonista irresponsável que está massacrando noções importantes e básicas que nos trouxeram até aqui e jogando conquistas históricas da humanidade no lixo. Algo que está acontecendo em todo o mundo. Falta de discussão, imediatismo, carência de maturidade política, desconhecimento de processos histórico bem como a supervalorização da economia em detrimento de todo o resto está nos corroendo por dentro e por fora. Quem se atreve a nadar contra a maré corre o risco de ser ironizado e descartado como um produto qualquer. Ninguém está interessado em ouvir opiniões diversas. A realidade pode ser múltipla, mas de todas as maneiras e em todas as formas ela só pode existir se baseada em experiências. Negar a importância da experiência que tem como pressuposto imprescindível o tempo para se realizar é negar a história da humanidade.

Nadar contra a maré requer uma boa dose de coragem e quixotismo. Experimentar o percurso para que? Se é possível adquiri-lo facilmente e ainda pagar em prestações suaves. Coragem e quixotismo é coisa para gente que gosta de sofrer, sentir na pele o sol a pino e o frio das noites de solidão, ah meu Deus, que perda de tempo. Sofrer? O que é isso? Você está louco? Passe na farmácia da esquina e compre uma fórmula contra esse mal. Que coisa antiga!

Um comentário:

Natasha Pinto disse...

cheguei aqui meio de pára quedas, mas acho que vou ficando...