2.12.10

LARRY CLARK

A exposição do fotógrafo Larry Clark no mam de Paris causou discussões e polêmica mesmo antes de sua data de abertura. O prefeito queria proibi-la por achar que algumas fotos de Clark são um atentado ao pudor. Lembre-se, o prefeito de Paris é conhecidamente gay e aí vai um recado para quem está acostumado a enquadrar o homossexual num único formato: tem para todo mundo, o leque de tipos é no mínimo igual ao do heterossexual, vai do conservador ao estridente, do tradicional ao pós-moderno, do gari ao prefeito. Enfim, a exposição foi aberta com a condição de que a entrada seria proibida para menores de 18 anos. Quando a visitei não vi nada que um adolescente não poderia ver e que não possa ver num clicar de teclas no computador de sua casa. Aliás, a exposição é composta na maioria de fotos de adolescentes e teria como alvo exatamente esse público. Uma advertência na entrada do museu teria sido suficiente. Enquanto via as fotos, novamente tive minhas velhas reflexões sobre como enquadrar a fotografia no imenso universo da arte. As fotos de Larry Clark por exemplo, são um misto de documento e testemunho. Não consigo vê-las como uma produção artística, no sentido original do que é fazer arte, como produção de algo inteiramente novo no campo intelectual ou material, mas como recriação de um estado da realidade. Quando vemos os garotos injetando drogas nas veias enquanto seus pênis estão em estado de semi rigidez (Nossa! Demorei para achar uma expressão que substituísse o popular “frappé”), as imagens são o registro de um testemunho, no caso o do Larry Clark num universo que a maioria dos visitantes da exposição já ouviu falar mas poucos tenham feito parte, e funcionam como uma forma de incursão higiênica num mundo que esses visitantes normalmente não teriam entrado não fosse através dessas fotos. Como bom ouvinte voyeur que sou, ouvi pouquíssimos comentários das pessoas que estavam próximas, o silêncio acompanhava o olhar da maioria. Passa-se de um pênis semi-ereto a outro sem nenhum comentário, de um pico a outro com cara de paisagem, adultos de idade variada, mentes cheias de fantasias. O que se passa dentro de cada uma dessas cabeças? O que estão pensando? No final da exposição minhas emoções estavam em baixo da sola dos meus pés, saí me perguntando o por que daquele cansaço. Entrar no universo de Larry Clark não exige nenhum esforço, e talvez esteja aí o perigo.

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