28.12.10

PAPAI NOEL

Passei o natal em Grenoble na casa dos avós de um amigo. Tranqüilo, sem estresse. Três dias calmos, na companhia de gente acolhedora e boa. Comemos e bebemos muito, mas também gastamos energias fazendo longas caminhadas nas montanhas cobertas de neve. Estou de volta em Paris e passo o Reveillon aqui. Enquanto o tgv rolava me trazendo de volta, refleti sobre como essas datas de festas coletivas conseguem mobilizar as emoções. Ninguém escapa. De uma maneira ou de outra, mobilizam até aqueles que passam esses dias criticando a onda de consumismo que se instaura quando na verdade a idéia é a confraternização e bla bla bla. Emoção também pode ser tratada como um produto consumível. Na maioria das vezes por essas mesmas pessoas que amam nos dizer como é que devemos nos sentir.

Tem um clochard que mora na Rue St Antoine bem próximo aqui de casa. Quando eu ia em direção ao metro vi quando uma mulher lhe entregou um par de sapatos. Ele perguntou qual era o número, e ao ouvir a resposta disse que os sapatos eram pequenos para os seus pés. A mulher insistiu e disse que mesmo assim queria que ele ficasse com os sapatos. O sujeito lhe respondeu que não, o que faria com um par de sapatos que não cabiam nos seus pés? Os dois discutiram e ele mandou ela enfiar o sapato vocês sabem onde. Eu me diverti. Pense bem. O que ela queria?

Um outro clochard que faz ponto todos os dias de manhã sentado nas escadarias do metrô St Paul desejando bom dia para os passantes e atrapalhando o acesso a entrada da estação, passou o dia 24 fantasiado de papai Noel com uma garrafa de vinho na mão e um saco plástico preto vazio ao lado. Casais jovens que passavam com seus filhinhos pelo local tratavam de desviar rapidamente. Ho ho ho.

Pouco antes da minha professora do primeiro ano primário me dizer que Papai Noel não existia, eu me perdi da minha mãe numa grande loja de departamentos. Fazíamos as compras de natal quando eu o avistei no fundo da loja. Sem que ela percebesse, eu fui procurá-lo, atraído por sua longa barba branca, não me lembro bem como tudo aconteceu, sei que ao me aproximar dele desatei a chorar de medo e acabei sendo anunciado como menino perdido pelos alto falantes da loja. Naquele ano ainda desejei uma máquina fotográfica kodak. O coitado do meu pai se virou para dar conta do recado. Lembro que ganhei a máquina e no dia seguinte já não tinha mais o menor interesse nela. Nem sei por que pedi uma máquina fotográfica de presente. O que me lembro é que infernizei a vida dele para ganhá-la.

Sem balanços. 2010 passou muito rápido. Quase todos os meus desejos foram realizados por mim mesmo. Quase todos. Virei meu próprio papai Noel? Não tenho queixas. Tenho feito menos pedidos a mim mesmo, já que com o tempo fui obrigado a aceitar que nem tudo depende somente da minha vontade de realizá-los, mas de uma imensa gama de fatores extraordinários e de outras pessoas. Continuo pedindo. E desejando. E quando dou de cara com um papai Noel já não o temo. Eu o abraço (quando ele permite), e sopro alguns desejos em seu ouvido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sergio K, moi, si je trouve un Père Noël d'aujourd'hui, l'emmener chez moi et faire mon Noël tout au long de la nouvelle année.
Denis