19.12.10

SERIA O RENASCIMENTO DOS ISMOS?


É com uma certa frequência que escuto falar sobre o fim das ideologias. Segundo a opinião dos que insistem em decretar a derrocada dos ismos, uma das razões seria a vitória do niilismo. Outro dia refletindo sobre isso, encontrei uma face positiva contida nesse argumento. Porque se o idealista, como eu o compreendo, acredita em algo que pode ser pura imaginação e fantasia e nega a realidade individual das coisas, isso quer dizer que estamos menos vulneráveis e desconfiamos mais de teorias que nos são apresentadas como soluções salvadoras e definitivas. O que não é de todo mal. Talvez formemos uma massa de incrédulos, no fundo uma massa de niilistas que só acredita vendo e não está disposta a embarcar em novos ismos a qualquer preço. A face negativa fica por conta da passividade, que venceu a vontade de tomar as rédeas e transformar, típica dos idealistas, e traço forte dos descrentes. Se as definições me permitissem ser mais flexível eu diria que estamos mais para uma sociedade niilista idealista, um bando de gente descrente com devaneios egocêntricos. O engajamento será sempre proporcional a visão que o indivíduo tem da realidade.

O filme do inglês Michel Hoffman, que tenta nos contar como foram os últimos dias da vida de Tolstoi, e aqui saiu com o título “Tolstoi, o último outono”, é uma mostra de como podemos banalizar um mito quando tentamos tirá-lo de seu trono de intocável. Isso pode ser saudável? Sim, pode, mas é inevitável que seja também brochante. A parte a interpretação excepcional de Helen Mirren e Christopher Plummer, não sei não se a coisa foi assim tão descafeinada, beirando a tea time. Faltou o peso sombrio do homem Tolstoi e sobrou uma coisa inglesa mais para “orgulho e preconceito”. O filme trata de relação tumultuada entre Tolstoi, sua mulher Sofia com quem viveu quase meio século e seu admirador e chefe da seita toistoniana, Chertcov. Chertcov tenta convencer Tolstoi da necessidade de deixar seu legado para o povo russo enquanto Sofia se sente traída pelo homem que ela dedicou a vida inteira e que está prestes a deserdá-la. Se procurarmos lá no fundo nossa porção Poliana, podemos encontrar algo de positivo nesse embate entre idealismo e realidade, no filme representado por Chertcov e Sofia na mesma ordem. Aí entra a história do engajamento ser proporcional a amplitude da visão da realidade do indivíduo. Esta é a chave do filme, e do embate dos personagens envolvidos, se apegue a esse argumento e vá assisti-lo.

Vou tentar aqui fazer uma previsão. Acho que vem aí uma onda de protestos estudantis e movimentos sociais. Diferente de maio 68, vai ser uma coisa organizada sobre os preceitos dessa sociedade niilista idealista egocentrista, isto é, um bicho de sete cabeças. Eu o sinto sendo alimentado nas conversas entre professores e estudantes. Por enquanto e só um sentimento, daqueles que vem com arrepios na coluna, mas que no fundo provoca uma certa felicidade.

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