20.2.11

INCÊNDIOS

Um drama familiar com fundo histórico de primeiríssima qualidade é o que você vai ver se for assistir ao filme do canadense Denis Villeneuve chamado “Incendies”. Para mim um dos melhores filmes que vi nos últimos meses. Tudo começa com a morte da mãe de um casal de gêmeos que deixa um testamento e que na abertura deste recebem a incumbência de entregar dois envelopes, um para o pai que acreditavam estar morto e outro ao irmão que desconheciam a existência. Roteiro perfeito, essa revelação feita nos primeiros minutos do filme vai ser o motor de todo o filme. O filme me conquistou logo no início, quando tendo ao fundo com trilha sonora música do grupo Radiohead crianças tem seus cabelos raspados e repentinamente um corte nos leva a um vilarejo libanês (o nome do país do oriente médio nunca é mencionado, mas o cenário histórico apresentado no filme se parece ao do Líbano), algo criticado por aqui sob a acusação de abuso de senso estético. Um argumento bobo, típico de críticos que não tem o que falar. Essa primeira imagem é uma das chaves do filme, nada mais justificável que colocá-la em evidência. Um quebra cabeça se forma e Jeanne, a filha, é a primeira a tentar solucioná-lo rastreando os passos da mãe em sua terra natal. Descobrimos junto com ela o passado de Nawal e como ela foi parar no Canadá. Em seguida o irmão que se recusa a entrar em contato com o passado, é obrigado a ir ao encontro da irmã para juntos encontrarem as respostas dessa fórmula quase matemática mantida em segredo pela mãe. Não percam.


Quando sai do cinema Marco, o amigo italiano de quem já falei num outro post, me enviou um texto me convidando a ir ao seu estúdio tomar alguma coisa. Cheguei lá com a coisa já andando. Fui apresentado a três garotas polonesas, um francês tímido, uma garota de Burkina Faso, um espanhol, Marco tocava violão e cantava uma de suas composições, uma história louca de um sujeito que conhece uma garota via internet e descobre que ela é horrível ao receber sua foto. Tudo isto num estúdio de no máximo 25 metros quadrados. O Líbano ainda estava impregnado em meu espírito e de repente me vi caindo dentro de uma salada multicolorida do tipo Benneton. Tomei alguns copos de vodka polonesa que as garotas me serviram e relaxei. Ninguém gostava do final da música de Marco e confesso que eu também não. As vodcas começaram a me inspirar e eu dei a solução para fechar essa história musicada. O refrão da música teria que ser “ne me link pas” numa alusão ao “ne me quite pas” da música que todo mundo conhece de autoria de Jacques Brel. E alteramos o final também, a garota não enviaria foto nenhuma, ela poderia fazer tudo, menos acabar com a fantasia do sujeito. Nada de imagens, nada de fotos, nada de real, tudo pela manutenção da ficção.

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