6.4.11

CHEWING GUM


Sou do tipo que masca palavras no cérebro. Eu não as engulo, nem as digiro preparando-as para expeli-las, eu as escuto, penso ter compreendido o que elas querem dizer no exato momento em que me foram ditas, mas depois, no dia seguinte normalmente, eu as reencontro e as mastigo como gomas virando-as de um lado para o outro dentro da minha cabeça. É a partir daí que o trabalho de compreensão se inicia. É a partir daí que as duvidas se multiplicam e me envenenam. Desse sumo extraído não através da paciência, mas muito mais da compulsão nasce a dor, o alívio, as respostas que não procurei mas fui obrigado a ir ao encontro. Nenhuma vítima. Nenhum carrasco. Nenhuma relação doentia. Uma construção esquisita, um modo torto de registrar e vivenciar. Não é o meio, não é o começo, e se parece muito com o fim. Já mastiguei muitas palavras no cérebro. Não tem gosto de amargo. Não tem gosto nenhum. E não posso retirá-las com as pontas dos dedos e grudá-las na parte de baixo de nenhuma poltrona de cinema e ir embora. Não tenho acesso a elas. São elas que me acessam e por isso o mal estar. Le malaise. Ficam a me torturar, provocando perguntas que não posso responder, e respostas de perguntas que não fiz.

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