Não sei se já contei que todas as sextas de manhã tenho uma aula com duração de duas horas com um professor maluco especialista em analisar literatura através dos olhos de Freud. A aula se chama “Crítica freudiana”. Gosto muito dessa matéria, porque tem esse viés psicanalítico, a literatura analisada através do inconsciente de quem a escreveu, o implícito, o que não é fácil de perceber, mas desconfio de quase tudo. Porque por vezes não consigo ver todas as conotações sexuais que ele vê e interpreta segundo as teorias freudianas. O professor é um sujeito que deve carregar no bolso uma carteirinha do fã clube do Freud, se isso existir. Nem pense em sugerir que qualquer outro teórico tem uma visão diferente sobre o assunto, ele imediatamente acaba com a reputação profissional de qualquer outro psicanalista. Um sujeito de aparência esquisita, tímido e desengonçado que se veste horrivelmente com ternos na cor mostarda, que faz movimentos corporais estranhíssimos logo que começa a descrever as teorias freudianas e analisar os textos. Mas é fascinante assistir suas aulas. Porque ele se entrega de corpo e alma para passar seu recado e tentar nos convencer de suas convicções. Ele já analisou alguns contos e trechos de romances, e em todos, sem exceção, todos, encontrou símbolos fálicos, impulsos sexuais, compulsões, pulsões e narcisismo. Um professor que não olha na cara de nenhum dos alunos da classe (esses dias pensei que esse não olhar no rosto dos alunos pode ser uma coisa meio parecida com os consultórios de psicanalistas freudianos onde os doutores analisam os pacientes sem os encarar). Seu olhar está sempre direcionado para algum lugar indefinido, entre um aluno e outro. Baba pelas laterais da boca e sua respiração se altera quando ele comenta as pulsões sexuais. Mas repito, é impressionante o vigor e a vontade de ensinar desse homem que lê trechos de livros para nós trocando a voz de acordo com o personagem e rindo de coisas que só ele consegue achar engraçadas e óbvias. Também é o único professor que trabalha com um relógio de bolso sobre a mesa, aperta o botãozinho quando a aula começa e acaba pontualmente duas horas depois, como se estivéssemos num consultório.
Os parques da cidade estão lindos. Uma explosão de cores e perfumes de flores nos atiçam os sentidos.
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