4.7.09

SILÊNCIO EM LUGAR DE PALAVRAS

Um dos personagens do filme “Há tanto tempo que te amo”, o avô, pai do marido da irmã que acolhe Juliette após sua saída da prisão, teve AVC, não consegue mais falar, mas, exceto pela impossibilidade da fala, está inteiramente saudável. Passa o dia lendo em seu quarto. É para lá que Juliette se refugia de vez em quando para desabafar. O velho ouve tudo, às vezes nem levanta a cabeça do livro que está lendo. Um personagem que aparentemente não tem muita importância, mas que é essencial na construção do filme e na reconstrução da vida de Juliette. O silêncio como um dos remédios para a cura. Demorou um bocado para eu entrar no filme, isto é, me sentir parte dele, mas a partir da metade eu fui fisgado e a emoção tomou conta das minhas indagações racionais. Grande parte do segredo do sucesso do bem realizado filme do Philippe Claudel está no silêncio. Silêncio que há dentro do rosto frio de Kristin Thomas, silêncio que há entre as duas irmãs, silêncio mesmo que forçado pela desconfiança do cunhado, silêncio na aproximação dos homens que a cercam. O filme é construído sobre essas bases. Os personagens falam sob medida. O excesso de explicações o deixaria óbvio e cansativo, como muitas vezes muitos diretores franceses fazem seus filmes. Além disso, uma combinação de bons atores, excelente roteiro, fotografia e música simples contribuem para a qualidade do filme. Recomendo. Se você tiver sorte, não terá como companhia duas mulheres tagarelas que sentaram duas fileiras atrás da minha e só pararam de comentar quando outra, logo atrás de mim, pediu para elas pararem de falar durante o filme. E se tiver mais sorte ainda, não terá como vizinho de fileira um rapaz que atendeu o celular duas vezes durante o filme, apenas para dizer para quem havia ligado que ele estava dentro de uma sala de cinema.

Um comentário:

Marfim Cariado disse...

amei esse filme tbm, imperdível, mto bom te ver!