11.10.10

BALANÇA MAS NÃO CAI


Desconfie de tudo que considerar evidente, tudo que é evidente é ideológico. Foi assim que meu professor de Sociologia da Cultura com sua voz mansa, mas nem por isso menos assertiva, abriu sua aula logo cedo e ajudou a despertar as dezenas de cérebros que ainda estavam acordando. Sentado na carteira da terceira fileira, minha mente ficou dividida, uma parte ficou atenta ao que ele nos falava e outra parte começou a digerir a frase e a buscar ressonância no nível pessoal. Isso não acontece raramente comigo, a tendência é sempre aspirar o que vem de fora e ver se serve ou cabe na minha experiência individual. E quase sempre serve e cabe. Assim visitei outras áreas mentais e encontrei lá dentro outros aprendizados que casam harmoniosamente com ela. Meus últimos anos de vida foram praticamente preenchidos por exercícios cujas práticas consistem em aprender a ver o que está por trás de tudo que os olhos simplesmente vêem. Encontrar o oculto no aparente, e depois o aparente no oculto, e mais adiante o oculto no oculto, o aparente no aparente e assim por diante. Prática que terei que fazer o resto da minha vida, porque toda nova situação me obriga a fazer novas reflexões.

Novas reflexões. Para sair do discurso que é evidente e cheio de armadilhas. Desconfiar. Do evidente. Das próprias reflexões. Da ideologia que aparentemente não tem corpo e está por trás de quase tudo organizando e acomodando o modo de pensar.

Todas as segundas feiras logo cedo terei esse senhor despertando minha consciência, me convidando a refletir sobre a maneira pela qual o irracional se exprime. Que sorte!

Nenhum comentário: