24.10.10

BIUTIFUL E BIUTIFUL

“Biutiful”, o novo filme de Iñarritu é uma porrada no estomago. O espectador passa quase duas horas e meia de filme tentando respirar de alguma maneira. Sofre com Javier Bardem, sofre com os imigrantes chineses, sofre com os imigrantes africanos, sofre com os filhos dele, sofre sem parar com a sucessão de imagens duras e realistas do cineasta mexicano autor de “Amores perros”, “21 gramas” e do holywoodiano “Babel”. A força das imagens é um dos trunfos do cinema, e Inãrratu e seu câmera sabem disso. Nem tudo é perfeito, mas a maior parte do filme convence. E o (sub) mundo certamente pode ser ainda pior. Tem doses de discurso politicamente correto, mas escancara a podridão sem filtrar seu fedor. Se conseguir assistir o filme com os dois lados do cérebro ligados, vai perceber que tecnicamente o filme é perfeito. Um exemplo é a cena em que a polícia cerca os africanos numa praça de Barcelona. Mas não vai ser fácil se distanciar das emoções. Javier Bardem e igualmente a atriz argentina Maricel Alvarez vão te deixar muito próximo do desespero e da angústia. Ao contrário do que alguns críticos daqui fizeram questão de ressaltar como o único ponto negativo do filme, a espiritualidade e a possibilidade de dialogar com os mortos, atributos de Uxbal, o personagem interpretado por Bardem, na minha opinião dão ao filme a sustentação necessária para a credibilidade da história. Porque a vida de Uxbal (e a nossa) sem a fé seria insuportável. Não só ele, mas tudo em sua volta está apodrecendo. A moeda de troca nesse caso ultrapassa o valor do dinheiro. Pequenos atos oriundos de uma moral própria do submundo, dão aos homens que dele e nele vivem um sentimento de dignidade e redenção que as condições precárias de sub-existência lhes tiraram. E a fé entra nesse contexto como uma sobrevivente de todas as esperanças que já foram enterradas vivas. A trilha sonora do filme também é um dos pontos positivos e ajuda a confundir o lado esquerdo e o direito do nosso cérebro. Vá sem medo de sofrer. Posso te garantir que tua vida é no mínimo um pedacinho da ilha de caras perto da vida de Uxbal.

Mas se quiser uma sessão da tarde café com leite, mas nem por isso menos boa, vá assistir o novo filme de Woody Allen, que aqui recebeu um nome beeem compriiido: “Você vai encontrar um belo e triste desconhecido” A boa qualidade "quase" constante de Allen, atores de primeira, Anthony Hopkins, Naomi Watts e o canastrão Antonio Banderas que bem dirigido consegue nos enganar, é uma garantia de que você não vai jogar nem seu tempo nem o seu dinheiro fora. Gosto do tema e de como Allen o aborda. Envelhecer, medo da morte, fé (olha ela novamente aí) e o acaso (ou será o destino?) tudo isso na mão do diretor americano é um prato cheio. Compre seu saco de pipocas e vá. Posso te garantir que tua vida é no mínimo parecida com alguns dos personagens do Woody Allen. E se não for, então você passou duas horas sem pensar nos candidatos e em suas propostas inteligentes que vão transformar o Brasil num país ainda mais perfeito.

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