29.11.10

AMARELINHA

Para começar esse post escrevendo as palavras que vocês estão lendo agora, escrevi e deletei pelo menos uma dezena de frases. Queria falar sobre a dificuldade que é construir uma relação de intimidade com as pessoas que acreditamos mais próximas. Todas as vezes que comecei a escrever achei que minhas palavras “soavam” de alguma maneira inadequadas. Difícil. Mas vou tentar. Porque hoje estou precisando dizer o que venho pensando desde que cheguei aqui e me distanciei geográfica e fisicamente das pessoas que amo. Intimidade não tem nada a ver com consangüinidade. Não é porque somos irmãos, primos, tios que somos automaticamente íntimos. Intimidade se constrói. E é difícil e delicada essa construção. A imagem de uma pirâmide de cartas que qualquer ventinho pode botar no chão me vem a cabeça. Depois de colocar a última carta ainda falta uma proteção de vidro. Talvez até por isso nos tornamos muito mais facilmente íntimos de pessoas que não tem nada a ver com a nossa família. Porque nos obrigamos a reinventar delicadezas para acessá-las. Por outro lado, a gente tem a impressão de que já conhece tudo sobre alguém que cresceu do nosso lado, e que isso é o suficiente para nos sentirmos íntimos. Mas não é assim que as coisas funcionam. Nesse caso tudo é muito mais complicado. A gente precisa se mostrar disponível e querer. Sobretudo a gente tem que querer. E quando a gente quer a gente se aproxima, se mostra, se expõe, demonstra que quer ser próximo, que está se mostrando porque apesar (é isso, escrevi apesar) dos laços sanguíneos você quer trocar confidencias com essa pessoa, dizer como se sente, porque sente tal sentimento, e quer saber o que a outra pessoa pensa e sente, e quer dar e ouvir opiniões, mesmo que contrárias as suas e quer discutir detalhes e ouvir, sobretudo você quer ouvir. E como são importantes nessa hora as opiniões contrárias as suas! Mas é difícil, reconheço. Porque o problema é reconhecer esse sentimento no/a outro/a, e lógico, o/a outro/a também tem que reconhecer isso em você. Os sinais tem que ser claros. Fumaça branca para mostrar que há consenso e que uma decisão interna foi tomada antes disso. Quando é que funciona? Não tem receita pronta, não é como fazer bolo de caixinha de supermercado. O que sei é que as pessoas têm que estar dispostas a construir a tal da pirâmide de cartas juntas, alternando a vez, entender intuitiva e racionalmente o funcionamento dessa construção e depois não esquecer da proteção de vidro. Ora sou eu quem coloca mais uma carta, ora é você quem vai apoiar mais uma sobre a última camada de cartas da pirâmide. Difícil. Mas se tiver vontade dá, e se souber rir quando um dos dois deixá-la desabar com o único propósito de recomeçar a montar a pirâmide, melhor ainda.

Cavar, cavar e cavar e quando encontrar as raízes, arrancá-las.
Deixá-las soltas no ar.
Como árvores que possuem raízes aéreas,
Tubos aspiradores de oxigênio.

2 comentários:

Lícia disse...

Adorei isso!!!
Beijo.

Lícia disse...

Adorei isso!!!
Beijo.