6.1.05

PROCURANDO O CARA.










Como encontrar a maldita casa, se naquele morro
nenhum barraco tinha um número?
Com um pacote na mão contendo ouro, mirra

e incenso, Baltazar discutia
com Belchior e Gaspar o jeito mais fácil de descobrir.
O primeiro argumentava que a solução seria contratar
um helicóptero e jogar panfletos com o nome

do cara sobre todos os barracos daquela favela.
O segundo era contra, alertava sobre os perigos que o
piloto correria. Afinal da última vez que alguém tentou
fazer a mesma coisa, o helicóptero foi atingido por

rajadas de metralhadoras e caiu sobre dezenas de
barracos matando muitas pessoas.
Gaspar, que ainda não havia falado nada, perguntou:
“Mas afinal quem é que a gente está procurando?”
E ao ouvir o nome Jesus, desanimou.
“Vocês são loucos? Nesse morro nascem todos os dias

pelo menos uma centena de caras chamados Jesus!
Tô fora, tô fora, se quiserem vão vocês sozinhos!”
Imediatamente Baltazar protestou.
“A gente não chegou até aqui pra desistir! Você não viu
o sinal? Os pequenos cometas atravessando o céu?
“Que sinal seu babaca! Aquilo era tiro, bala indo de um
lado para o outro.”
Belchior então interveio.
“Calma gente, calma, não vamos discutir por causa disso.
Eu sugiro que a gente de uma chegadinha naquele boteco
e beba alguma coisa até o dia amanhecer. Aí, o clima vai
estar mais calmo. Achar ou não achar o cara,

historicamente vai dar na mesma.
De quaquer maneira ele não terá vida longa.
Além do mais quem vai querer incenso e mirra?”

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