“Quem quer ser milionário” é melhor que o tal do Benjamin Button, mas não é um puuuta filme. É um bom filme. Com alguns péssimos diálogos que não caberiam na boca de um slumdog de verdade. Uma grande história, bem roteirizada, bem dirigida, com atores (não todos) convincentes, mas não um excelente filme para merecer oito oscars. Se bem que o Oscar não deve servir de referência para nenhum amante do cinema. Em alguns momentos o filme é constrangedor de tão bobão e cheio de clichês. Dá para falar de política, injustiça social ou miséria no cinema sem o formato placativo engajado? No caso da miséria, por exemplo, é necessário adicionar diálogos que reflitam a consciência do personagem? Estou ainda formando minha opinião, mas sei antecipadamente que é muito difícil falar sobre esses temas sem esbarrar nas teorias de causa e efeito recorrentes nas bocas dos pseudos sabidões. Peca na caracterização caricata dos personagens maldosos, que são muito maus. Prende a atenção porque no fundo você quer ver como ele vai ganhar o prêmio, mas outras coisas são previsíveis, como o final. Enquanto esperava os créditos do filme subirem, e via aquela dancinha cafona coletiva que fecha o filme, pensei nas semelhanças com o filme “Cidade de Deus” do Fernando Meirelles. Têm muitas, até a galinha está presente logo no início do filme, só não ziguezagueia loucamente. Mas há uma grande diferença, que é a qualidade dos diálogos do filme brasileiro, enxuto, sem discurso político na boca dos personagens, coerente e realista. Numa das cenas do “Quem quer ser milionário”, o garoto miserável, sem estudo, sem cultura, diz a um casal de turistas, “você não queria conhecer a verdadeira Índia? então, essa é a verdadeira Índia”. Essa frase não caberia na boca de nenhum garoto naquela situação. E o pior é a resposta do casal americano que indaga praticamente a mesma coisa ao moleque e mostra o dólar para corromper o policial. Não dá. É ridículo. E o Fernando Meirelles teve a sensibilidade de não terminar o filme dele com um monte de favelado dançando axé. Bem é isso e nada mais. Se você me perguntar se deve assistir, eu digo que sim, deve. Mas se é um puuuta filme, eu digo que não.
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