1.3.09

LIÇÃO DE CASA

Ontem enquanto comia meio galetinho num pequeno restaurante no centro da cidade, ouvia o diálogo de três mulheres sentadas numa mesa logo ao lado da minha (não dava para não ouvir, porque elas falavam num tom de sala de estar). Então uma delas disse que não tinha ido assistir ao “Milk” porque ficou sabendo que era um filme gay e não tinha nada a ver com aquilo. Quase me engasguei com a asinha de frango que começava a destrinchar. As três olharam para mim assustadas. Disse a ela que exatamente por isso achava importante ela assistir o filme. Vi que ficaram assustadas, afinal o que é que eu tinha a ver com isso? Ora, se elas podiam falar naquele volume de voz invasivo, pensei que era para tudo mundo ouvir e conseqüentemente participar da conversa, dar opinião, dividir a porção de batatinhas da mesa delas. Afinal eu estava sendo obrigado a ouvir toda a conversa, não conseguia ler o jornal que levei para me acompanhar no almoço. Porque eu não poderia me meter no assunto delas se elas estavam falando para todo mundo ouvir? Depois disso resolveram falar mais baixo, num volume apropriado para um restaurante, isto é, onde outras pessoas também estão, e não devem ser obrigadas a ouvir o que não querem. Me senti um Michel Douglas versão light no filme “Domingo de Fúria”. Consegui ler e comer normalmente. Enfim defendi o meu espaço, uma lição que a senhora que ainda não foi ver “Milk” “porque o filme é gay”, poderia começar a entender se fosse assisti-lo.

Se o calor continuar como está, provavelmente a versão light do Michel Douglas vai dar lugar a uma mais fiel. Saudades dos dias de outono. Menos luz, cores menos intensas, mais conforto ao caminhar pelas ruas, menos cultura do sovaco, menos rasteirinhas. Tudo menos, menos isso.

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