Ainda na cama, de olhos abertos, espreguiça os pensamentos. Prenúncio de como o dia será. Querendo ou não terá que se emaranhar na teia invisível que o espera do lado de fora do quarto. Olha para o relógio sobre o criado mudo, fecha os olhos, sem perceber adormece. Sonha. Um lugar que não é o seu, um homem desconhecido, um cachorro que late em algum lugar muito distante. O homem começa a caminhar em sua direção. Sorri. Passo a passo tenta se aproximar, mas ao contrário do que aconteceria se ele não estivesse sonhando, quanto mais passos o homem dá em sua direção, a distância entre os dois aumenta. Ele sabe que isso não é possível, mas observa. Do lugar onde está não pode fazer nada. Espera. Vê o homem se distanciar a cada novo passo. Emparelha as palmas das mãos rentes a sua boca e grita: “não venha, fique onde está, fique-onde-está”. O homem interrompe seu curso. Obedece. Fica. Distante. Então é ele quem começa a ir em direção ao homem que o espera. Um beijo na boca. É seu único pensamento enquanto caminha em direção ao homem. Antes o abraço. Para sufocar a dor. O cansaço. Pronto. Estão muito próximos agora. Já podem se tocar. O cachorro que latia longe se aproxima. Cheira seus tornozelos, vira, rodopia, volta, enfia o fuço entre suas pernas, abana o rabo, cheira seu sexo. O homem sorri. Apóia as duas mãos sobre seus ombros e diz: “que bom que você conseguiu chegar até aqui, que bom. Agora continue, faça o que deve fazer”. Acaricia a cabeça do cachorro e completa: “estaremos aqui quando você voltar”. Sem aviso ele abre os olhos. Procura o relógio para ver as horas. Dá um salto da cama. Está atrasado.
21.3.09
SHORT STORY
Ainda na cama, de olhos abertos, espreguiça os pensamentos. Prenúncio de como o dia será. Querendo ou não terá que se emaranhar na teia invisível que o espera do lado de fora do quarto. Olha para o relógio sobre o criado mudo, fecha os olhos, sem perceber adormece. Sonha. Um lugar que não é o seu, um homem desconhecido, um cachorro que late em algum lugar muito distante. O homem começa a caminhar em sua direção. Sorri. Passo a passo tenta se aproximar, mas ao contrário do que aconteceria se ele não estivesse sonhando, quanto mais passos o homem dá em sua direção, a distância entre os dois aumenta. Ele sabe que isso não é possível, mas observa. Do lugar onde está não pode fazer nada. Espera. Vê o homem se distanciar a cada novo passo. Emparelha as palmas das mãos rentes a sua boca e grita: “não venha, fique onde está, fique-onde-está”. O homem interrompe seu curso. Obedece. Fica. Distante. Então é ele quem começa a ir em direção ao homem que o espera. Um beijo na boca. É seu único pensamento enquanto caminha em direção ao homem. Antes o abraço. Para sufocar a dor. O cansaço. Pronto. Estão muito próximos agora. Já podem se tocar. O cachorro que latia longe se aproxima. Cheira seus tornozelos, vira, rodopia, volta, enfia o fuço entre suas pernas, abana o rabo, cheira seu sexo. O homem sorri. Apóia as duas mãos sobre seus ombros e diz: “que bom que você conseguiu chegar até aqui, que bom. Agora continue, faça o que deve fazer”. Acaricia a cabeça do cachorro e completa: “estaremos aqui quando você voltar”. Sem aviso ele abre os olhos. Procura o relógio para ver as horas. Dá um salto da cama. Está atrasado.
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