27.3.09

VISITANTE DESEJÁVEL


Das qualidades que demandam cultivo nos seres humanos, delicadeza e gentileza são talvez as que vêem se tornando mais raras nos últimos tempos. Não são matérias subordinadas ao IBAMA, mas seus fiscais contribuiriam muito com a sociedade se começassem a cuidar disso também. Talvez o resto ficaria um pouco mais fácil. Pequenos gestos e atos de delicadeza não são objetos fashion e não podem ser consumidos, são mais complexos, exigem boa vontade e também inteligência emocional. Por outro lado proporcionam prazer imediato aos envolvidos. Talvez por isso demandem cuidados especiais e só podem ser praticados por seres humanos de verdade, com maturidade e consciência do que significa pequeneza e também grandeza de caráter. Fiz esse prologuinho para falar um pouco do filme “O visitante”. Porque é assim que eu o analisei durante e depois da projeção. Saí do cinema pensando na quantidade de tempo que desperdiçamos durante o decorrer da vida com nossas picuinhas e pequenezas, muitas vezes apenas porque deixamos de usar com propriedade nossas emoções e também a razão em proveito de algo que podemos construir. Gostei demais do filme. Até mesmo quando ele se tornou previsível. Porque a exposição da rigidez sendo gradualmente quebrada pela introdução da delicadeza na vida do protagonista é muito bem feita. No filme, tudo isso é muito bem explorado. Do roteiro ao desempenho de cada um dos atores que nele trabalharam. O sujeito vai se tornando mais humano a partir de suas próprias iniciativas. E as outras pessoas que “sofrem” o efeito bom de suas iniciativas retribuem com a mesma moeda. Moeda essa que não tem nenhum valor mercadológico. Gentileza e delicadeza não se compram e nem se vendem, existem para serem cultivadas e praticadas. Mesmo quando a realidade individual não aponte para a justiça. O mundo não é justo. Os homens não são justos. Mas o sofrimento pode ficar mais suportável.

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