12.8.09

INCONSCIENTE GULOSO

Dizem que a gente sempre sonha. Não importa se a gente consegue se lembrar ou não, a gente sonha e ponto. Quase nunca consigo me lembrar dos meus sonhos. Seguindo o raciocínio de que sonhamos todas as noites, fico me perguntando por que quase nunca consigo me lembrar deles quando acordo. Seria um péssimo paciente para um analista freudiano. Teria que inventar sonhos para ser analisado. Outra pergunta que me faço quando sonho e consigo me lembrar, é de onde vem ou quem são algumas pessoas que participam deles, e eu nunca as vi ou ouvi falar delas. Como assim? Como é que alguém que eu nunca vi se intromete nos diálogos ou na paisagem dos meus sonhos? Deve ter algum diretor de atores ou coisa parecida que os chamou para trabalhar no meu filme particular sem me avisar. Essa noite sonhei com um amigo que assim como eu adora comer e descobrir novas receitas e restaurantes. Estávamos no terraço de algum lugar que eu sabia localizar-se na Toscana. Enquanto degustávamos os Chiantis e observávamos o pôr do sol ele foi emagrecendo gradativamente. Cada vez que ele reaparecia do outro lado da mesa ele estava mais magro. Foi emagrecendo até ficar muito parecido com ele mesmo quando jovem numa fotografia que conheço e que está pendurada no corredor de sua casa. Súbito surgiu um sujeito bonachão com uma dessas peças inteiras de prosciutto na mão e a colocou sobre a mesa. Começou a cortá-la em fatias muito finas e a nos servir. Comíamos e bebíamos como sempre fazemos, prazerosamente. Lembro-me de ter acordado no meio do sonho e de quase sentir o gosto e o cheiro dos alimentos que faziam parte do meu sonho. Para encurtar a história, acordei com uma sensação de ter acabado de sair da mesa. Não consegui sequer tomar o café da manhã. Uma sensação de saciedade me acompanha até agora. Não sei como essas coisas funcionam, nem como nosso organismo as metaboliza. Para prevenir tomei meu remédio de colesterol antes da hora que costumo tomar. Vou ligar para meu querido amigo e perguntar se ele gostou do que comeu e bebeu. Sonhos têm dessas coisas, a gente viaja sem precisar desembolsar um tostão, num fechar de olhos estamos do outro lado do mundo, falando línguas desconhecidas e até se relacionando com gente que nunca vimos. Uma amiga minha diz que são lembranças de outras vidas que ficaram gravadas no disco rígido da nossa alma. As lembranças reaparecem por algum motivo. Eu não tenho certeza de nada. Mas quando um sonho me leva para a Toscana e me inclui numa paisagem como a da última noite, e ainda inclui no pacote um saborosíssimo chianti, eu adoro sonhar. Ficou faltando apenas à sobremesa. Se houver uma continuação, uma espécie de sonho Toscana II, vou pedir ao bonachão que trouxe o prosciutto para que me traga um panna cotta. Afinal no sonho tudo acontece com muita facilidade, então ele pode muito bem dar um pulinho até a vizinha Piemonte e me trazer um docinho.

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