3.7.10

DEUSES

Fui assistir “Dioses”, filme do diretor peruano Josué Mendez. Não conheço o cinema feito no Peru, sei que ele também dirigiu “Dias de Santiago”, mas não tive oportunidade de ver. “Dioses”é bem feito, mas não impressiona, principalmente porque ele trata de temas que nós brasileiros conhecemos bem, e que o cinema brasileiro já explorou também muito bem. Sem querer comparar mas já comparando, basta ver “Quanto pesa ou é por quilo?” de Sergio Bianchi, ou “Cidade de Deus” de Fernando Meireles. Nessa caso, o filme conta a história de uma família rica peruana e retrata conseqüentemente o comportamento alienado de parte da sociedade privilegiada do país (sociedade privilegiada = comportamento alienado, já vi isso antes) . Dois irmãos, um rapaz sempre taciturno e deprimido que é tarado pela própria irmã, uma garota que não gosta de fazer nada além de varar a noite e consumir drogas, o pai, um rico empresário que quer que o filho assuma seus negócios, e sua namorada, uma modelo que vem dos bairros pobres da cidade e que se esforça para esquecer o passado e se integrar na sociedade burguesa peruana. Retratar parte privilegiada da sociedade peruana ou brasileira ou qualquer outra, sem um discurso politizado é uma tarefa bastante difícil. Querendo ou não o autor/diretor/roteirista não alcançará seus objetivos apenas expondo cenas ou caricaturando os personagens representativos do filme. Lógico, as imagens falam por si, mas acho que teria preferido um discurso político mais explícito. Sei que faz tempo que os artistas em geral perderam a coragem de se posicionar politicamente, há toda uma politicagem (de quinta ideologicamente falando, mas poderosa economicamente) que está por trás das produções cinematográficas. Na literatura não é muito diferente, o discurso político está fora de moda, pode tudo, escatologia e exposição da vida íntima na mídia, mas por favor não vá dizer o que pensa por aí porque isso não interessa a ninguém. Também não sei como fugir disso tudo, consigo perceber, e isso é tudo, bater sempre de frente acaba deixando a gente com cara de pastel. Talvez não há nada a se fazer, a não ser continuar a fazer aquilo que se acredita, sem dar ouvidos a terceiros. Talvez.

Um comentário:

Lícia. disse...

Sergio K, vc é um pastel e tanto!
Beijos já saudosos.