13.7.10

SPAS MAIS BARATOS

Sem exageros. Já falei antes aqui que a arte dá sentido a minha vida. Sem o cinema, a literatura, a música e a pintura eu não saberia como lidar com a realidade. Poderia agora também dizer que sem ela não saberia lidar com o calor parisiense. Por sorte aprecio essas manifestações do espírito e me refugio dentro das salas de cinema ou de exposições. No domingo a tarde me escondi do calor de 39 graus dentro de uma pequena salinha aqui pertinho de casa logo ao lado da Bastille. Sob uma temperatura bem mais civilizada assisti a um filme argentino chamado “Rompecabezas” aqui chamado “Puzzle”, no Brasil acredito que será denominado Quebra cabeças. O filme conta a história de uma mãe de família que dedica sua vida a cuidar do marido e dos filhos. No dia de seu aniversário ela ganha um quebra cabeça e esse presente vai de alguma forma fazê-la descobrir um outro universo. Filme simples, com roteiro simples, mas não por isso incapaz de emocionar. A atriz Maria Onetto incorpora essa mulher quase a ponto de nos fazer acreditar que não está interpretando. Há algo de enfadonho em seu rosto e mesmo no olhar que pousa sobre o marido e filhos, mas contrapondo essa aparente ausência de curiosidade, ela dá sinais de convicção sem fazer alarde de suas vontades. Gosto bastante dessas histórias pouco grandiosas, que falam de universos domésticos aparentemente desinteressantes, e acho que o cinema argentino é talentosíssimo nesse tipo de filme e sabe contá-las como nenhum outro. Não há personagens caricatos, são verossímeis e envolventes. O filme não tem nenhum final surpreendente, e nem deveria ser diferente, uma história bem contada não precisa surpreender para ser boa, há muitos outros requisitos mais importantes, a coerência, por exemplo, é um requisito que dou muita importância. Recomendo.

Hoje novamente a arte me salvou a vida. Antes que o sol da tarde pudesse me fritar fui a Fondation Cartier Bresson ver a exposição Irving Penn “Les petits Métiers”. A exposição é pequena, mas valiosa. Um registro dos artesãos parisienses e londrinos feito na década de 50, quando Penn foi contratado para cobrir as primeiras coleções de alta costura para a Vogue de Paris. As fotos foram feitas em estúdio, os artesões posaram para ele vestidos e portando seus instrumentos de trabalho. Limpadores de chaminé, açougueiros, padeiros, sapateiros, costureiras, de A a Z lá estão eles com seus rostos peculiares sem fazer poses, orgulhosos e verdadeiramente colocados em posição de evidência. No terceiro andar algumas fotos de Cartier Bresson oferecidas como as últimas cerejas do bolo para a gente degustar. Valeu, valeu, valeu. Faça sol faça chuva, me refugio nesses templos onde me sinto protegido dos efeitos maléficos do cotidiano. Funcionam como spas para o espírito, arte é melhor que qualquer complexo multivitamínico, e acredite, bem mais barato.

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