21.1.09

NEM TUDO QUE RELUZ...

Assisti alguns trechos da posse do Obama, durante a maior parte da cerimônia peguei no sono. Acordava de vez em quando para dar mais uma espiadinha e toda vez ouvia os jornalistas do canal globo news especularem qual seria a frase marcante do discurso dele que ficaria para a eternidade. Hoje quando acordei li um artigo na internet sobre um livro de uma escritora francesa que será lançado em mais de dez países. A matéria diz que ela foi caixa de supermercado por mais de uma década, estudou letras e que escrevia um blog contando seu dia a dia e sofrimento. Ela disse que era massacrada pelos clientes e muitas vezes ignorada. Quando era percebida, então era “humilhada”. Imagino e consigo entender também sua raiva. Com todo o respeito a sua dor, ninguém vai ao supermercado para “ver” a ou o caixa, mas para comprar o que precisa e quer se mandar o mais rápido possível. Lógico que se espera o mínimo de educação desse consumidor, bom dia, boa tarde, boa noite, obrigado, até a próxima e etc... O que ela queria? Trocar receitas, fazer terapia, saber os motivos que levam o comprador a comprar tal marca e não outra, onde cortava o cabelo? Bem, o que tem a ver a expectativa dos jornalistas pela frase marcante do discurso do Obama com a new writer? Nada e tudo. A necessidade de se criar uma história “interessante” para valorizar o produto que se está pretendendo vender. Não basta o cara fazer um discurso, tem que se encontrar uma frase que sintetizará o seu governo, porque o Lincoln e o Kennedy tiveram frases que marcaram seus discursos e então o Obama também terá que ter a dele e blá blá blá. Assim como se cria uma história que justifique a publicação do livro da caixa sofredora e o impulsione para os primeiros lugares das listas dos mais vendidos. Ao contrário do Obama, que ficará anos em evidência e teremos tempo para averiguar se a frase pinçada pelos jornalistas (será que eles conseguiram?) e seu governo serão coerentes, provavelmente a caixa sofredora voltará a sofrer com sua predestinada invisibilidade. É a tendência, com raras exceções. Não ignoro a realidade contemporânea: a visibilidade é necessária num mundo que avalia a qualidade do produto pelo grau de celebridade do autor. Tem que aparecer para vender, caso contrário, até nunca mais. Mas isso não quer dizer que estou de acordo com as regras impostas pelo mercado. Não vou criar expectativas sobre a conduta de um homem ou seu governo em razão de uma única frase que ele disse. E sei que por trás das palavras brilhantes utilizadas para me encantar e fazer comprar um produto, há muitas outras ofuscadas e que são tão ou mais verdadeiras. Aquele que utiliza palavras brilhantes deve ter consciência de sua responsabilidade quanto à manutenção do brilho delas. Se o tempo chamuscar esse brilho, então, você já sabe, eram apenas palavras preparadas para brilhar por um curto tempo. As verdadeiras vencem sempre, mesmo quando reprimidas pelos raios brilhantes. Ao Obama meu voto de confiança e fé, a escritora caixa sofredora, boa sorte, e que o brilho da estréia seja duradouro.

2 comentários:

Unknown disse...

Caro Sérgio,
Tu és muito bom nas letras, Deus te iluminou no dia em que decidiste seguir este caminho, amei teu blog.
Segunda estarei na fila do "gargarejo" na Livraria da Travessa para disputar a tapa, se necessário, teu conto...
ABS
Maria da Conceição Tavares - garganta99

Anônimo disse...

Querida M.C.T, que bom saber que você veio me visitar. Por favor deixe o endereço completo do seu blog para que eu possa retribuir a visita e conhecer as peripécias da garganta99.Forte abraço aí no Rio.