Estou de mudança. Saindo do apartamento de amigos onde me hospedei até agora. Mudo para um pequeno estúdio que estou alugando também aqui no Marais, quando digo pequeno reduzam bastante a imagem que lhes veio a cabeça quando acabaram de ler a palavra pequeno. Lá vou passar dois anos até o final do meu mestrado na Sorbonne. Para quem ainda não sabe fico aqui por dois anos estudando a literatura de outros escritores e escrevendo a minha própria, apesar do tempo limitado que me sobra para me dedicar à ficção. Mas alguma coisa deve haver de errado em mim, pois escrevo mais quando o tempo me parece menor, quando me sinto pressionado pelo medo de não poder contar às histórias que quero contar.
Na semana passada conheci um filósofo italiano, professor da universidade de Milão. Homem que reunia toda a características físicas do italiano do norte, estatura média, pele clara, olhos claros, cabelos claros, pequena irritabilidade constante denunciada no olhar e no gestual. Agora esqueça toda a imagem que você fez de um filósofo, aquele homem que reflete, pensa, e gosta de conversar ou fala pelos cotovelos. O milanês era silencioso e quase mudo, econômico nas opiniões, e um filósofo que tem a capacidade de nos fazer pensar sem nos dizer muita coisa. Um filósofo que deveria ter estudado antropologia. Um sujeito enigma. Amadurecido como um jogo de descobrir palavras sem nenhuma dica para facilitar qualquer pessoa interessada em completar os quadradinhos vazios dos quais é formado. Esta aí um método didático interessante capaz de fazer os outros refletirem sobre controle de impulsos. Ou você foge ou o bicho te devora.
Há mais ou menos trinta anos caí de paraquedas no consultório de um analista freudiano. Na época eu era um jovem em busca de auto conhecimento (ainda busco, só deixei de ser jovem), lembro-me que no meio da primeira sessão tive muita vontade de sair correndo do consultório. Eu ainda não tinha a cara de pau que tenho hoje e não era suficientemente desinibido para falar de mim mesmo com um estranho que se limitava a me olhar enquanto eu falava, sem demonstrar a menor espressão facial ou gesto. Um silêncio se impôs entre nós, que não era oriundo de nenhuma inocência, e o meu interlocutor também não era o Antony Hopkins, mas de alguma forma o olhar desse discípulo de Freud era o de um canibal. Minha sessão de terapia acabou ali, naquele primeiro encontro. Voltando ao filósofo italiano, seu silêncio e olhar agudo me remeteram a essa sessão de psicanálise, com uma diferença significativa; não senti vontade de sair correndo, mas de fazê-lo correr para muito longe de mim com seu silêncio ensurdecedor.
Na semana passada conheci um filósofo italiano, professor da universidade de Milão. Homem que reunia toda a características físicas do italiano do norte, estatura média, pele clara, olhos claros, cabelos claros, pequena irritabilidade constante denunciada no olhar e no gestual. Agora esqueça toda a imagem que você fez de um filósofo, aquele homem que reflete, pensa, e gosta de conversar ou fala pelos cotovelos. O milanês era silencioso e quase mudo, econômico nas opiniões, e um filósofo que tem a capacidade de nos fazer pensar sem nos dizer muita coisa. Um filósofo que deveria ter estudado antropologia. Um sujeito enigma. Amadurecido como um jogo de descobrir palavras sem nenhuma dica para facilitar qualquer pessoa interessada em completar os quadradinhos vazios dos quais é formado. Esta aí um método didático interessante capaz de fazer os outros refletirem sobre controle de impulsos. Ou você foge ou o bicho te devora.
Há mais ou menos trinta anos caí de paraquedas no consultório de um analista freudiano. Na época eu era um jovem em busca de auto conhecimento (ainda busco, só deixei de ser jovem), lembro-me que no meio da primeira sessão tive muita vontade de sair correndo do consultório. Eu ainda não tinha a cara de pau que tenho hoje e não era suficientemente desinibido para falar de mim mesmo com um estranho que se limitava a me olhar enquanto eu falava, sem demonstrar a menor espressão facial ou gesto. Um silêncio se impôs entre nós, que não era oriundo de nenhuma inocência, e o meu interlocutor também não era o Antony Hopkins, mas de alguma forma o olhar desse discípulo de Freud era o de um canibal. Minha sessão de terapia acabou ali, naquele primeiro encontro. Voltando ao filósofo italiano, seu silêncio e olhar agudo me remeteram a essa sessão de psicanálise, com uma diferença significativa; não senti vontade de sair correndo, mas de fazê-lo correr para muito longe de mim com seu silêncio ensurdecedor.