23.8.10

QUASE PERFEITO


O álibi usado para determinar a inocência quando se é acusado de ter cometido um crime, perde o valor se todas as circunstâncias que o determinaram como prova irrefutável de inculpabilidade não agregarem a ele a certeza e o indubitável. Se as peças ou circunstâncias que montam esse álibi nos parecem frágeis, ou porque não se encaixam ou porque nos parecem fantasiosas demais, a dúvida surge e o álibi deixa de exercer sua única função que é provar a inocência de quem está sendo acusado de maneira irrefutável. Esse é o único e grande problema do filme “Crime d’amour” do diretor francês Alain Corneau. O filme começa muito bem, tem tudo para ser um grande thriller, tem um elenco de primeira, Kristin Scott Thomas e Ludivine Sagnier, uma boa história, tudo se encaixa, a frieza da chefe de uma empresa francesa filial de uma multinacional americana, admirada por sua subordinada, a sedução do poder e da eficiência, a manipulação clara para atingir seus objetivos, o mundo frio e falsamente higiênico da executiva, tudo muito bem montado até a ocorrência do crime. Daí em diante a coisa despenca, o plano para provar a inocência da subordinada tem a pretensão de nos esclarecer as coisas de forma tão encaixada e lógica que acaba perdendo a força inicial. O diretor usa imagens em preto e branco para refazer todos os cuidados da autora para a realização de seu crime perfeito, mas o recurso não é suficiente para esconder as falhas de roteiro. Não é realista acreditar que alguém na posição da acusada, depois do tempo em que esteve na cadeia, retorne a empresa, assuma o lugar da chefe assassinada (cujo assassinato, ela era a maior suspeita), e ainda dê o golpe derradeiro no comparsa da ex chefe. A partir da metade do filme a frieza que se justificava no início deixa de ser convincente e se torna caricata, todos os subterfúgios utilizados pela assassina passam a suscitar dúvidas no espectador por causa de facilidade com que eles se realizam e dão certo progressivamente. Uma faca escondida minuciosamente pela assassina é achada facilmente pelo policial, um tombo auto provocado é explicado pelo vizinho, talvez se algumas imagens não nos tivessem sido mostradas com tanta clareza, o filme teria ganhado em suspense. No cinema, a ajuda das imagens para se explicar um crime pode ter o efeito de um tiro que sai pela culatra.

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