17.8.10

SERGIO XAVIER


Fato curioso aconteceu comigo essa semana. Meu professor trouxe um conto escrito por um antigo adjunto do primeiro ministro Villepin para a gente estudar. O nome do político e também escritor é Azouz Begag, um homem conhecido por suas ações e pensamentos políticos contraditórios, francês filho de imigrantes árabes que visivelmente tem problemas de identidade e usa expressões como “discriminação positiva” para defender suas idéias sobre política de imigração. O conto dele narra a história de um homem que vê uma mulher numa estação de trem e começa a sonhar com a possibilidade de conhecê-la. Não tem nenhuma conotaçao política, mas a gente consegue pescar um pouco do perfil psicológico do autor. É repleto de imagens cafonas e carregado por uma linguagem cheia de clichês sobre o amor e a mulher e ainda a vontade de mostrar ao leitor sua pseudo erudição e conhecimento da língua francesa. Estudamos o conto juntos sem que me fosse possível conhecer o seu desfecho. Minha lição de casa era dar um final ao conto fazendo uso do mesmo estilo exagerado do escritor. Reli o conto algumas vezes e não conseguia imaginar um fim para ele. Deixei o texto de lado um ou dois dias e depois fui relê-lo. Escrever de um jeito que não é o meu é muito difícil, e o estilo romântico carregado me inibia as idéias. Comecei a ficar com bode do sujeito e do conto. Então resolvi puni-lo frustrando as expectativas do personagem. Finalizei o conto fazendo a mulher se voltar contra ele e acabando com seus devaneios rococós. Achei que o professor fosse me achar meio perverso, mas mesmo assim levei meu final para ele ler. Ele leu e me perguntou como eu havia descoberto que o final era aquele. Eu disse que não havia lido o final do conto em nenhum lugar e que desconhecia o final dado pelo autor. Pois não é que eu dei ao conto o mesmo final escrito pelo autor. Eu puni o personagem praticamente declarando sua predileção ao masoquismo e transformei a mulher dos seus sonhos numa mulher fria, de voz metálica, rígida com tendências sádicas. Para se ter uma idéia das coincidências, num determinado trecho do conto o personagem acende um cigarro para pensar melhor como puxar uma conversa com a mulher dos seus sonhos. Usei essa passagem como pretexto para que ela tomasse a dianteira e o abordasse, desse uma bronca nele, mandando ele apagar o cigarro e perguntando se ele não sabia ler que lá não era permitido fumar. Pois o autor do texto fez a mesma coisa com outras palavras. Que loucura. Entrei na cabeça do autor e compreendi seu perfil psicológico. Rimos muito da coincidência, mas confesso que fiquei assustado com a história. Será que vou começar a psicografar?

2 comentários:

Lícia disse...

Xavier K, a mediunidade é uma benção,kkkk!
Saudades.

Cleide K disse...

Êh família de fadas, bruxos, etc...
Abraços de saudades.Cleide