29.8.10

POESIA

Fui conhecer a biblioteca François Miterrand que fica fora do circuito turístico de Paris, no 13eme arrondissement. Ela é vizinha de Bercy (12 eme), bairro novo, com um parque belíssimo que eu recomendo a todo mundo que tenha tempo de sobra quando vier a Paris. Chega-se facilmente lá com a linha 14 do metrô, que diferentemente de quase todas as outras da cidade é também nova e tem projeto arquitetônico moderno. Depois fiquei por ali e fui ao cinema numa das salas do complexo também novo próximo a biblioteca. Confortáveis, grandes, espaçosas. Assisti “Poetry”, filme sul-coreano dirigido por Lee Chang-Dong. Meu repertório de filmes asiáticos é mínimo, por isso entrei desconfiado e disposto a me levantar e ir embora se o filme fosse exótico demais. O resposta para essa minha ignorância e preconceito foi ficar sentado na sala por 2 horas e 20 minutos (duração do filme) extasiado com a delicadeza de tratamento dado ao tema do filme. Uma senhora solitária com sintomas da doença de Alzheimer que cuida do neto numa cidade pequena da Coréia do Sul. Essa senhora busca saber como se faz poesia, se inscreve em um curso para saber como pode ser tocada pela inspiração e etc. quando ao mesmo tempo é confrontada com o suicídio de uma garota que estudava na mesma classe de seu neto. O tempo do filme deve ser medido com uma ampulheta, não com um relógio digital. Tem um ritmo lento, é extremamente bem escrito, não economiza em detalhes que teriam sido “evitados” por qualquer outro diretor ocidentalizado. Um romance filmado sem cortes que evita o didatismo e não está interessado em nos dar qualquer lição de moral. Que fala sobre a inadequação das palavras ou da nossa falta de habilidade para praticá-las. Mas você terá que ter paciência porque ele não escancara suas intenções, e pode servir como sonífero para o espectador acostumado a assistir filmes ocidentais (um sujeito ao meu lado roncou nos primeiros minutos e só acordou porque sua mulher lhe chamou atenção algumas vezes durante o filme). Digamos que ele é como uma boa poesia, tem ritmo próprio e esconde múltiplas interpretações atrás de sua aparente simplicidade. Espero que ele chegue aí no Brasil.

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